segunda-feira, 17 de dezembro de 2007

Capítulo 8 - Parte já não sei quantos

Rani não sabia o que responder, portanto começou a arrastar Niel para um quarto. Quando chegou às escadas, levou-a de uma maneira tal que a cabeça de Niel bateu em todos os degraus. Ceridwen, que seguia atrás com Zaen, teve uma leve sensação de déjà vu com aquela cena.
Horas depois, Zaen acordou e, vendo Niel numa cama próxima, andou até ela e fixou o olhar no seu rosto adormecido, na certeza de já o ter visto algures. Mas onde? Não teve tempo de responder à sua própria pergunta, pois Niel abriu os olhos nesse momento e, vendo-o, sorriu-lhe de forma demasiado fofa para o gosto de Zaen.
- O que se passou? – perguntou Niel.
- Não sei – respondeu Zaen. – Só me lembro de me dares uma seca sobre religião e de começar a beber duma garrafa que encontrei. Depois há uma espécie de branca na minha memória até ao momento em que uma tipa gótica aterrou em cima de ti. A partir daí tenho outra branca, se bem que esta última é mais negra, porque me parece que perdi mesmo os sentidos.
- Gótica? Ah, deve ser a Ceridwen. Bem, aqui todos são góticos.
- Tu não pareces muito – comentou Zaen, analisando o vestido colorido de Niel.
- É uma longa história. Digamos que os meus pais passaram por muita coisa e isso, pelo que a Ceridwen me diz, deixou-me alguns traumas. Não sou muito normal. Senão fosse gostar de um bom sangue de barata e ter adoptado o Morfeu, já me tinham internado.
- Pois, sou sempre eu a safar-te de tudo!
Zaen virou-se para o ponto de onde a voz tinha vindo e pensou que o efeito do álcool ainda não devia ter passado. Aparentemente, tinha sido um morcego a falar. Ele já se tinha conseguido convencer de que a galinha falante era uma alucinação, mas juntar a isso um morcego era admitir a insanidade.
- Errrr… Quem é que falou? – perguntou, a medo.
- Eu! Está mais algum morcego no quarto?
Nisto, três vultos alados disparam pela janela fora e afastam-se a voar.
- OK, não queria ofender. Esta minha espécie leva tudo à letra; era só uma expressão…
“Hum”, pensou Zaen, “não só falam como têm personalidades complicadas… Ai…”
- Morfeu, tem calma – interrompeu Niel. – Este é o Zaen. Veio da Terra e parece que lá só os seres humanos é que falam.
- E os emos – acrescentou Zaen.
- Seja isso o que for – murmurou Morfeu.
- Zaen, este é o Morfeu, o meu morcego.
- Hum. OK. É um prazer conhecer-te, Morfeu.
- Veremos – cortou o morcego. Estava mal-humorado naquele dia e não estava a gostar nada da expressão idiota (mais que o normal) de Niel quando olhava para aquele tipinho.

domingo, 16 de dezembro de 2007

Capitulo 8 - Parte qualquer coisa II

Quando Niel finalmente (após quase meia hora de monólogo) finalizou com “… é a vida em harmonia com todas as coisas do universo.”, Zaen estava quase em coma alcoólico, pois tinha achado uma garrafa de vodka cheia e, com a sede que tinha, já a tinha bebido toda, assim como outras que estavam ao lado.
Niel olhou para ele, que estava coberto de baba e espuma nos cantos da boca.
- Tadinho, está com raiva. Ceridwen! – gritou a última parte.
Ceridwen apareceu com um estampido, teletransportada de sabe-se-lá-onde e aterra em cima de Niel.
- Wtf? Niel? Onde estás? Oh minha idiota, sai de debaixo de mim!
Ceridwen resolveu ela mesma sair de cima de Niel, que estava inconsciente, visto que afinal era uma questão de referencial e, olhando para Zaen, perguntou:
- Quem é ele? Parece que está com raiva… OH NÃO!
Ceridwen chamou Rani, que veio logo a correr.
- Que foi, Ceridwen? – E, olhando para Zaen – O que é que o Zos está aqui a fazer??
- Chiu! – disse Ceridwen. – Lá por eu ter posto a Niel KO não tens de anunciar aos 7 Pentagramas que o Zos está vivo. Ele não estava a parsecs daqui?

quinta-feira, 25 de outubro de 2007

Capitulo 8 - Parte qualquer coisa

- Aquilo, o quê?
- A galinha! Ias a correr, ela falou comigo, e tu, durante todo esse interlúdio, mencionaste o não-sei-quê do ritual…
- Ah, isso!
E Zaen, não a deixando continuar, perguntou:
- És satânica?
- Sa… quê?
Com isto, Zaen viu todos os seus receios aflorarem-se-lhe à pele. Afinal aquilo não era propriamente a sua casa. Eles não sabiam o que era o satanismo. Mas, afinal, para que quereriam uma galinha preta?
Niel, como se lhe adivinhasse o pensamento, começou a explicar:
- Eu não sei bem a que te querias referir com isso do sata… qualquer coisa. Nós aqui no R7P3I somos todos… quer dizer, acho que há alguns que não acreditam bem nisto, mas só pela piada, também participam.
- E essa… hum… religião, tem nome?
- Nós não temos nome para a religião, pois ela é o tudo e o nada, é a presença da ausência, é o infinito num espaço restrito, é espaço e tempo, é fogo e água, é…
E aqui Zaen deixou de ouvir, pensando "É uma sensação de absorção, mas ao contrário…", enquanto Niel debitava o que a tia lhe tinha ensinado e o que todos os habitantes do Reino aprendiam em crianças quando faziam aquela pergunta aos pais.

Capítulo 8 - parte VI

Depois de, finalmente, apanhar a galinha e de a deixar numa outra divisão, Niel voltou para junto de Zaen.
- Hum… A tua cara não me é estranha – disse-lhe.
- Errr… Terra? Cemitério? Diz-te alguma coisa?
- Ah, claro! Zaen, certo? Desculpa, não te tinha reconhecido, estás um bocado mais branco…
- Pois, é uma longa história – disse Zaen. E perguntou, ainda intrigado com a cena digna de Monty Python a que tinha assistido com a galinha, – o que raios foi aquilo?

Capítulo 8 - Parte V

A rapariga parou, encolheu os joelhos e com o impulso necessário, atirou-se para a frente. Zaen estacou e olhou para a cena. Niel voava, bracejando e dando às pernas como se estivesse a nadar no ar. Ele pensou: “Epá, grande jogada! Assim apanha a galinha de certeza. E é gordinha, dava uns ricos hamburgers de aves.”

Parecia uma cena tirada de um filme sobre jogos de basket, em camera lenta. Lá ia Niel a voar, ou melhor, a nadar no fluido gasoso a que damos o nome de ar. A graciosidade inexistente com que se movia assustou os pobres morcegos que assistiam à deprimente cena de cabeça para baixo, com as patinhas agarradas às traves que cruzavam o tecto.

Lá ia Niel pelo ar. Estava a 1 metro da galinha… 50cm… 10cm… -2cm… -50cm… -1m… -2m…

Lá aterrou Niel 5 metros depois da galinha, que parou e inclinou o pescoço par ao lado como os cães fazem quando observam algo realmente estúpido. Esticou uma pata para o lado, rodou sobre si própria e começou a andar para trás, na direcção de Zaen. Niel ficou quieta no chão a dizer asneiras. Levantou-se murmurando muitos ais e uis e voltou-se.

- Apanha a bicha! – gritou ela para Zaen.

- O quê? O que é uma bicha? – perguntou ele, confuso.

Niel bateu com uma mão na testa, enquanto murmurava:

- Este gajo é tão estúpido que até parece ser meu pai!

A galinha parou em frente a Zaen e levantou a cabecinha. Zaen olhou para a galinha, a galinha olhou para Zaen.

- Olá, toino – disse a galinha.

Zaen mandou um grito e trepou pelo pilar mais próximo, agarrando-se a ele como quem se agarrava à vida. Quando Niel chegou ao pé dele, tocou-lhe num ombro. Ele abriu os olhos a medo. Tremia violentamente.

- A… a… a galinha falou! – guinchou ele.

- Mas tu vens de que mundo, pá? – perguntou-lhe Niel. Mas não esperou pela resposta dele, voltando a correr atrás da galinha. – Anda cá, pita, pita…

Capítulo 8 - Parte IV

Portanto, e como já devem ter entendido, aquele dia era o Dia da Galinha Preta e de Todas as Galinhas de Todas as Cores Porque Somos Góticos Mas Não Somos Racistas.

Capítulo 8 - parte III

O pobre Zaen não fazia ideia de que tinha chegado ao R7P3I, onde milénios de isolamento tinham levado à evolução (?) extrema da religião wiccan gótica para um nível tal que cada dia era dedicado a um animal, que era alvo dum ritual de adoração ao fim do "dia" (portanto, no chamado "pôr-do-pentagrama").

Capitulo 8 - Parte II

Olhou para a porta da sala e viu que dava para um corredor. Viu uma galinha preta a correr e uma rapariga (que se parecia muito com aquela que tinha visto no cemitério) a correr atrás da galinha e a falar para ela.
- Anda cá, galinhazinha… pita, pita, pita… Ai, a Ceridwen vai-me matar se eu não levar a galinha a horas para o ritual.
Zaen resolveu correr atrás da rapariga, que ele tinha a certeza de ser a Niel e que, aparentemente, era satânica como ele.

Capítulo 8 - De volta ao Reino...

Anfira quase se afogava em lágrimas; os seus super-poderes cristãos davam-lhe uma capacidade sobre-humana de chorar como uma Madalena (não a nossa, a outra…) e Vyrmack já tinha água pelos joelhos, ele que até era um tipo alto.

Entretanto, do outro lado do wormhole, Zaen só conseguia pensar "OK, morri e fui para ao céu… inferno… pois, isso…", porque deu por si numa sala gótica (arquitectura gótica, decoração gótica, tudo-o-que-se-lembrarem gótico) e, portanto, bastante negra. Sentiu-se em casa. Quer dizer, tecnicamente, estava em casa, só que ainda não o sabia.

Capitulo 7 - Parte III

- Da última vez houve um palácio que teve que ser redecorado devido à excessiva quantidade de sangue nas paredes.

Matthieu pegou em Madalena e zarpou dali para fora a voar. Se ia meter estacas de madeira, água benta e espadas, ele não queria estar ali.
Quando Madalena o sentiu a pegar nela, começou a ficar toda excitada.
- Este gajo! – pensou ela – vê lutas e pensa logo noutras coisas – e agarrou-se fortemente a ele e começou a suspirar.
Matthieu engoliu em seco. Da próxima fugia sozinho.

Anfira virou-se para Filia Santíssima com a sua panóplia de armas e sussurrou para Zaen:
- Que pena seres satânico e nós não sermos casados. Odiava morrer neste combate sem ter desfrutado dos prazeres carnais inerentes a esse belo sacramento da igreja.
Filia paralisou. Era demasiado bom ir assassinar aquela gente toda, agora era deprimente aquela Super Cristã ser tão cristã assim. E, quando pensou nisso, de a Anfira ainda não ter experimentado aquilo, deu-lhe um ataque cardíaco e evaporou-se ao som de Grieg.

Zaen, que até aí não tinha entendido grandemente coisa nenhuma, quando finalmente conseguiu decifrar o que Anfira lhe tinha dito ficou branco (ok… ele já era branco por causa do pó-de-talco que usava para lhe dar aquele ar poser satânico, mas ficou ainda mais branco). Começou a desejar um buraco para se esconder de Anfira, porque casamento era uma palavra que não existia no seu dicionário satânico. E foi com tanta força que desejou por um buraco que, sob os seus pés, se abriu um wormhole e ele sumiu nele.

Vyrmack ficou deprimido (mais ainda, se tivermos em conta que ele é emo) e com uma enorme vontade de cortar os pulsos enquanto se enforcava (sim… isto tudo ao mesmo tempo), pois nunca lhe tinha ocorrido que se podia ter aberto um wormhole onde ele morava. Podia ser a sua oportunidade de voltar para o seu habitat natural, o R7P3I.

Anfira começou a chorar copiosamente. Apesar de Zaen ser poser, ela tinha uma ternura muito cristã por ele, e puxou de um dos seus muitos rosários e começou a rezar pela alma do seu querido amado, assim como pela sua rápida conversão. Depois olhou para Vyrmack. Puxou de outro rosário e, como era a Super Cristã, começou a rezar este e continuou o outro, apenas com uma pequena diferença de fase entre as duas orações.

Matthieu estava já a milhas com Madalena quando com os seus sentidos super-hiper-mega-ri-fixes e ultra desenvolvidos verificou que, naquele universo, já não havia Zaen. E disse a Madalena:
- Ainda bem que viemos embora. Neste momento, a banda de metal fofo perdeu o vocalista.
- Então porquê? Ele não levou mapa para a casa do Vyrmack?

Matthieu, se estivesse vivo, tinha morrido de certeza. Mas ele sabia que Madalena até era inteligente… mas não era bem normal. E, com muita, muita, muita calma, explicou-lhe que não sentia a presença de Zaen naquele universo.
- Oh! Tadinha da Anfira! E eu que pensava que era desta que ela deixava de ser uma cristãzinha irritante.
Desta vez foi Matthieu que ficou excitado. Aquela Madalena, afinal, era mais maléfica do que ele tinha pensado.
E comeram-se logo na nuvem mais próxima…

domingo, 30 de setembro de 2007

Capítulo 7 - parte II

Uma vez no interior, distribuiram-se pelos vários sofás da sala de Vyrmack e, após o necessário update entre ele e Zaen, contaram-lhe a sua história. Vyrmack mostrou-se interessado e os seus olhos brilharam quando ouviu o nome de Niel.
- Niel? De certeza que era esse o nome?
- Sim, sem dúvida - confirmou Zaen. - Diz-te alguma coisa?
- Sim, mas para isso teria de vos contar a minha história. Aviso desde já que não é muito feliz...
- Era de calcular, para se tornar emo... - murmurou Madalena para Matthieu.
- Qualquer informação que nos ajude é bem vinda, Vyrmack. Por favor, conta-nos a tua história - pediu Zaen, que estava desejoso de perceber alguma coisa.
- Muito bem. Há vários anos - muitos mesmo -, eu viva num universo paralelo a este. Alguma teorias aqui na Terra já prevêem a existência de universos paralelos, só que ainda não foi possível demonstrá-lo na prática. Aparentemente, haverá uma espécie de portais, habitualmente chamados de wormholes, que servem de ligação entre universos. Pensa-se que estes wormholes existam entre buracos negros e os seus opostos, os buracos brancos, e, se entrarmos dum dos lados, sairemos noutro universo ou, possivelmente, num ponto distante do mesmo universo.
»Voltando então a mim: eu nasci no Reino dos Sete Pentagramas (Três dos Quais Invertidos), nesse universo paralelo. Como o nome indica, lá quase todos são gótios. A Rainha, na altura, tinha 3 filhas das quais eu sempre fui amigo. A mais velha das 3, Ceridwen, foi e ainda é o grande amor da minha vida - aqui, Vyrmack soltou um leve suspiro. - No entanto, por motivos demasiado complicados para vos explicar neste momento, acabei com uma das suas irmãs, que viria a suceder à sua mãe como Rainha. Mas nunca esqueci Ceridwen e acabei por engravidá-la. O pai dela quis matar-me por isso, foi uma grave violação das leis do Reino, e na fuga, enquanto passava num campo, caí num buraco... Quando dei por mim, estava na Terra...
- O... K... - foi a única coisa que Anfira conseguiu dizer.
- Wow... Que história fascinante... - comentou Matthieu, que, na sua breve passagem pelo R7P3I tinha sabido de algumas coisas e agora somava 2+2.
- Mas o que é que a Niel tem a ver com isso? Conhece-la? - perguntou Zaen.
- Sim. Quer dizer, não, mas é possível que seja...
- Quem? Quem? - Zaen sentia uma necessidade imensa de saber a verdade, como se aquela história tivesse algo a ver com ele.
- Bem, ela deve ser...
No momento em que Vyrmack respondeu, o som da sua voz foi abafado pela Cavalgada das Valquírias, à qual se seguiu um clarão (novamente os reflexos rápidos de quem já sofreu vários momentos de cegueira temporária mostraram-se úteis), donde saiu Filia Santíssima, trauteando músicas de Amon Amarth. Com a sua pele branca e o seu cabelo dourado, Filia parecia brilhar no ambiente dark da casa de Vyrmack, o que fez com que os nossos heróis pensassem que o melhor era deixarem os óculos na cara, não fosse haver azar.
Sorrindo, Filia não resistiu a comentar:
- Ora boas! Estamos muito estilosos, estamos... Tiraram a ideia de algum vídeo dos Tokio Hotel, não? - disse, rindo. Deixando Amon Amarth para cantarolar agora "Go, Go, Emorangers!", Filia deu uma olhadela à casa, rindo-se para si própria dos pormenores característicos da espécie emo. Os outros olhavam para ela sem saber o que dizer. Finalmente, Anfira quebrou o silêncio:
- Valha-me Deus! O que estás aqui a fazer?
- ...es! Deus-es! Quantas vezes é preciso explicar? Ora bem, agora que saíram finalmente do hospital, pareceu-me ser uma boa altura para acabar com os principais defensores das religiões mais idiotas à face da Terra. OK, admito que os wiccans talvez sejam piores que vocês... mas isso também não interessa nada. E, ainda por cima, apanho-vos em casa de um emo. Isto hoje é que vais ser lindo.
E, pegando na sua espada viking, recomeçou a trautear Amon Amarth, enquanto adoptava uma posição de combate. Anfira levantou-se e sacou do bolso, qual Lara Croft, duma variedade incrível de armas, incluindo uma estaca de madeira que fez Matthieu estremecer.
Vyrmack soltou apenas um "Oh não...". Para quem vinha doutro universo, aquilo não devia ser tão estranho assim. Então, pediu, com um ar deprimido que ninguém percebeu se se devia à situação ou se era o seu aspecto normal:
- Não façam muita desarrumação...

quarta-feira, 15 de agosto de 2007

Capítulo 7 - Go go emorangers

Após uma breve passagem pelo hospital do costume, onde umas bengaladas do Dr. Orchouse dadas no sítio certo resolveram todos os problemas de cegueira e afins - com esperança de que o bando nunca mais lhe aparecesse à frente, o médico/orca até lhes ofereceu óculos de eclipse, não fossem haver mais clarões repentinos ou passagens em frente a lojas Swarovski... -, os nossos heróis seguiram para a caravana da banda de Zaen. Esta encontrava-se vazia, porque os restantes músicos andavam pela cidade tentando manter-se alcoolizados, que tocar de ressaca não é bom. Quando se acomodaram, fixaram todos o olhar em Zaen, incluindo ele próprio - como bom poser, Zaen idolatrava-se e o seu assento favorito era em frente a um enorme espelho que insistia em levar consigo para onde quer quer fosse. Depois de alguns segundos de espera, Madalena perguntou, finalmente:
- Então? Afinal quem é esse amigo que vamos ver o que tem ele a ver com isto?
- Sim, convinha dares-nos umas luzes - apoiou-a Matthieu. - Os meus tempos de árvore de Natal já lá vão...
- OK, OK. Calma. Passo a explicar: tenho um amigo que sempre me disse que vinha dum universo paralelo, onde quase todos são góticos. Obviamente, ninguém acredita nele - alguns pensam que é louco, outros acham só que tem uma lata incrível para se dar ao trabalho de tentar enganar seja quem for. Eu próprio nunca acreditei, mas se temos, ou tivemos, connosco uma miúda que veio do nada, voltou para o nada e conta a mesma história, isto começa a dar-me em que pensar...
- Desculpa lá, mas essa história dos universos paralelos não me convence. Isso nem vem na Bíblia! - respondeu imediatamente Anfira. - É que nem nas entrelinhas. E podem crer que eu sei do que falo.
Os outros quase adormeceram no momento só de imagina Anfira a ler a Bíblia vezes e vezes seguidas...
Madalena foi a primeira a recuperar do momento de tédio:
- Achas então que esse teu amigo terá respostas para nós?
- Não sei, mas não perdemos nada em tentar... Eu tinha-lhe prometido que o ia visitar quando passasse por cá, isto vem mesmo a calhar.
Saindo para a rua, seguiram alguns caminhos de ar duvidoso, com Zaen na frente, até chegarem a uma simpática casa com portas dum amarelo tão vivo que, se não fosse os óculos do Dr. Orchouse, teriam tido mais um momento de cegueira temporária.
Fazendo-lhes sinal de que aquele era o local que procuravam, Zaen tocou à campainha, estremecendo logo de seguida, como sempre lhe acontecia quando ouvia aquele som. O seu amigo ainda usava como toque da campainha a mesma musiquinha irritante de Green Day...
Em poucos segundos, a porta abriu-se e o grupo viu um homem com um ar jovem, de estatura média, completamente vestido de preto. E dizemos ar jovem porque isto tem narração omnisciente, que a malta lá só lhe via um olho e pouco mais: o resto do rosto estava coberto pelo seu cabelo, pintado de preto, que, em vez de tirar da frente dos olhos, ele pôs ainda a tapá-los mais, deixando ver uma mão com unhas surpreendentemente pintado de preto.
Zaen tratou de fazer uma apresentação rápida. Vyrmack era o nome do seu amigo, que, depois de os cumprimentar, lhes fez sinal para que entrassem. Eles obedeceram e subiram os pequenos degraus com o pensamento "Oh não, um emo..." na cabeça.

domingo, 24 de junho de 2007

Capítulo 6 (IV)

- Ora portanto, diz-nos lá de onde vens – pediu Zaen, quando todos se voltaram a sentar , uns no chão outros nalguma sepultura.

- Bom, eu vivo nas catacumbas de um centro comercial, com um morcego cegueta e uma tia esquisita que insiste em que vá atrás do local assinalado neste mapa, mas eu acabo sempre por cair num buraco e nunca lá chego. Primeiro era por não saber ler mapas. Agora foi por não saber o que queria dizer a inscrição que estava num placa ao pé de um poço.

Todos ficaram a olhar para Niel, com aquelas carinhas que fazemos quando temos pena de alguém e não sabemos bem porquê.

- Lembras-te do que estava escrito nessa placa? - perguntou Madalena, agarrada a Matthieu, que massajava a garganta e olhava para o pendente que tinha cuspido.

- Sim, acho que consigo soletrar – respondeu Niel. - Deixem cá ver se me lembro...

Ao longe ouviu-se o pio de uma coruja, que andava na sua caçada nocturna, como habitualmente. A noite ia avançada e a lua cheia brilhava lá no alto, imponente e majestosa, cada uma das suas crateras um apelo a uma observação com um telescópio (que pode ser daqueles rascos – como é a lua vê-se qualquer coisa, quando ao resto não prometo nada). Uivos cortaram o pio da coruja. A coruja voo para longe com um pio de aviso a outra corujas: “mantenham-se no ar, lobisomem à vista”. Um ser metade lobo metade homem saltou de trás de uma campa e aterrou mesmo em frente a Matthieu. O vampiro não se mexeu. O colar com o pendente em forma de estrela pendia-lhe da mão, oscilando suavemente, com a brisa da noite. Matthieu olhava, tal como os outros, para Niel, expectante. A rapariga continuava de mão no queixo e olhar preso no céu estrelado a pensar, a tentar lembrar-se. O lobisomem rosnou a Matthieu e mostrou-lhe os dentes e olhou para ele com olhos raiados de sangue e a espumar da boca. O vampiro não se mexeu. O lobisomem parou de rosnar, fechou a boca e tocou no ombro de Matthieu com um dedo. Este continuou impávido e sereno a olhar para Niel. O lobisomem sentou-se, com ar de gatinho fofo e pôs-se a olhar para o vampiro, de braços/patas cruzados. Após olhar para ele fixamente durante cinco minutos, revirou os olhos e pôs-se a olhar para o pendente brilhante de oscilava de um lado para o outro, tão harmonicamente. Para lá, para cá, para lá, para cá, para lá... *pum*

O lobisomem caiu no chão hipnotizado, imerso num sono profundo. Foi então a vez do sol (aquela coisa brilhante que parece uma cruz) dar o ar de sua graça. A lua foi dormir e o astro rei ergueu-se no céu em todo o seu esplendor. Por volta do meio-dia o homem que na noite anterior era lobisomem acordou. Olhou para os cinco jovens sentados à sua volta e coçou a cabeça . Arqueou a sobrancelha e olhou para si. Levantou-se, tapou as partes baixas com as mãos e fugiu do cemitério. Alguns zombies passaram por ali e cumprimentaram a zombi da campa a seguir àquela em que Niel estava sentada. A zombi estava a cozinhar uns ovos estrelados na campa.

- Atão Maria, tá tudo bom? - perguntou um dos zombies.

- Está. Estou a fazer o almoço. São servidos?

- Nã, obrigado. Já comemos ali na tasca do Zé, ao lado da capela. Tou a ver que a tua vizinha arranjou umas estátuas muita lindas. No meu tempo não havia nada nisto.

- Pois é. Gente rica! Devem ser agora daquelas de cera. Olha para a perfeição! Até parecem verdadeiros. Até parece que respiram!

- Pois é. Mas ela podia ao menos ter arranjado a estátua do Mourinho. Ao menos era uma “special one”.

Os Zombies desataram a rir à gargalhada e prosseguiram a caminhada. O sol (aquela coisa brilhante que parece uma cruz) cansou-se de andar de um lado para o outro e foi dormir, como todas as noites (foi ligar-se à tomada, funciona a bateria). A lua voltou ao palco onde decorre a acção principal, agora ligeiramente ratada (Deus, o ratinho, gosta de comer lua. Está tudo explicado!). Subitamente todos acordaram do transe com o guincho de Niel.

- Ah, já me lembro.

O suspiro de alivio foi audível por todo o cemitério. A coruja suspirou tanto que acabou sem ar e esticou o pernil, patil, asil, o que lhe quiserem chamar.

- Ora bem – continuou Niel. - Começava com um W e depois tinha um O e um R e um M e depois um H, um O, um L e por fim um E. Alguém sabe o que quer dizer?

- Wormhole – disse Anfira, juntando as letras todas e pronunciando a palavra correctamente. - É inglês, rapariga. Mas o que é que vocês aprendem na escola?

- Escola? - perguntou Niel, confusa. - Mas eu nunca fui à escola.

AH! Está tudo explicado... Adiante.

- Ok, esquece isso – disse Madalena. - Wormhole significa em português “buraco de verme” ou “buraco de minhoca”. O que percebes de Física?

- Física? O que é isso, pá? Alguma marca de poços?

- A mim parece-me que ela percebe bastante de Física. Como ela diz, passa a vida a cair em buracos. Querem melhor evidência da sua sabedoria sobre queda de graves e lançamento de projecteis? - falou Matthieu, com uma voz límpida e sensual.

Madalena suspirou a agarrou-se a Matthieu, atirando ambos para o chão, que rebolaram aos beijos para trás de um jazigo. Anfira e Zaen não resistiram a beijarem-se. Um brilhante clarão iluminou o cemitério, seguido de dois gritos de dor.

- Fogo do Inferno! - exclamou Madalena. - Não vejo nada! Estou cega.

- A culpa é deste pendente manhoso – gritou Matthieu, atirando o colar pelo ar, que foi bater na cabeça de Niel e a fez desequilibrar-se.

Um pendente voou pelo ar, acompanhado do mapa. Niel caiu para trás em direcção ao chão, que se abriu e a engoliu. Anfira apanhou o colar e o mapa e observou-os.

- Isto agora foi muito estranho – murmurou Zaen, assustado.

- Podes crer. E agora? O que fazemos ao mapa e ao colar?

- Está na altura de irmos fazer uma visitinha a um velho amigo.

- Quem? - perguntou Anfira, curiosa.

Zaen não respondeu, limitando-se a sorrir.

- Ei, ei! – gritou Madalena. – Nada de ideias. Primeiro levem-nos ao hospital.

domingo, 17 de junho de 2007

Capítulo 6 (III)

De volta à Terra, os nosso heróis conversam alegremente num cemitério – é dia (noite) de sacrifício para Zaen e os outros resolveram acompanhá-lo, em parte por pura amizade, mas também um pouco para compreenderem melhor a lógica dos rituais, de forma a tentarem dissuadi-lo daquela estupidez.
Anfira estava obviamente chocada; cristã como era, tudo aquilo era horrível para ela e teve de se esforçar bastante para não fazer ali mesmo uma fogueira e queimar Zaen no momento. Matthieu e Madalena esforçaram-se bastante também, provavelmente até mais que Anfira, pois tiveram de ser eles a segurá-la e, afinal, ela tem super-poderes…
Depois de a conseguirem acalmar (com um tranquilizante poderoso que tinham cravado ao Dr. Orchouse, para o que desse e viesse), Zaen começou a distribuir os tabuleiros com hamburger, batatas fritas e bebida e todos, Anfira incluída, comeram com gosto. Afinal a noite já ia a meio e eles tinham jantado cedo para poderem entrar no cemitério antes da hora do fecho e esconderem-se por trás duns jazigos. Parte do stress de Anfira tinha também a ver com a fome que tinha e a consequente vontade praticamente incontrolável de devorar o monte de hamburgers que Zaen tinha empilhado cuidadosamente num altar improvisado em cima de uma sepultura.
Como era de esperar, com a velocidade com que atacou a comida (apesar do tranquilizante), Anfira só podia acabar engasgada (demonstração óbvia de que reencarnar não serve para nada, ou ela ter-se-ia lembrado da razão pela qual Matthieu respirava como respirava…).
No preciso momento em que já não sabiam o que fazer mais para a ajudar (já quase lhe tinham partido algumas costelas, de tanta pancada nas costas), eis que se dá um milagre – ou, para os não crentes, a chamada coincidência do caraças: de uma das sepulturas, ergue-se uma mão, numa cena digna de filme de zombies, seguida doutra mão, esta segurando o que lhes pareceu ser um mapa com um enorme X vermelho próximo do centro. Após uns bons 10 minutos de esbracejos, finalmente aparece o resto do corpo de uma rapariga, aproximadamente da idade de Anfira e Zaen e estranhamente parecida com ambos. À excepção de Anfira, que continua a lutar por um bocado de ar, todos ficam aparvalhados a olhar para ela. Ela devolve-lhes o olhar estupefacto e depois grita-lhes:
- Vocês são estúpidos ou quê?! Estavam a pensar em ajudar quando? Quando já só fosse preciso volta a enterrar-me as mãos, depois de ter morrido asfixiada? E iam enterrar aquela comigo, não? – pergunta-lhes, apontando para Anfira, cujo rosto adquiria, a cada momento, uma cor mais estranha.
Com algum esforço, os três pararam de rir – por quase ter asfixiado, a jovem gritava num timbre extremamente hilariante – e voltaram a lembrar-se de que talvez fosse boa ideia ajudarem Anfira, que olhava incrédula para eles e que, se conseguisse, apoiaria com voz igualmente cómica os protestos da recém-chegada.
A rapariga, que parecia ter finalmente recuperado o fôlego e as forças, avançou para Anfira, com o seu vestido outrora leve e esvoaçante agora completamente amachucado, como as asas duma borboleta acabada de emergir do casulo. Casulo, sepultura, vai tudo dar ao mesmo, tirando o pormenor de ninguém sair vivo da sepultura…
Adiante: pegando em Anfira, a rapariga aplica-lhe a manobra de Heimlich. Um pedaço de hamburger sai-lhe disparado da garganta a alta velocidade e atinge em cheio o pescoço de Matthieu, que cospe de imediato o pendente que tinha engolido muitos anos antes e que lhe tinha valido noites bem animadas com Madalena.
Depois de alguns minutos utilizados por todos para se beliscarem repetidamente e por Anfira para respirar e se controlar para não fazer uma enorme fogueira e os pôr lá todos (ela sempre tinha sido apreciadora dos métodos da inquisição católica), rodearam a rapariga, agradecendo-lhe e enchendo a atmosfera já de si tétrica do cemitério com questões, algumas aparentemente idiotas, como “Qual é o teu tipo sanguíneo?”. Considerando-se mais ou menos satisfeitos, declararam, por fim:
- Foste o máximo. Salvaste o dia… noite… pois, isso.
- Pois, lá em casa é que não me acontecem destas – pensou Niel, sacudindo finalmente a terra e alguns pequenos ossos do seu vestido. E murmurou para si própria – parece que Ceridwen tinha razão, desta vez devo mesmo ter caído num precipício…

quinta-feira, 14 de junho de 2007

Capítulo 6 (II)

Deus chorava porque se sentia incompreendido. Quer dizer, ele não era bem Deus, mas todos achavam que sim e fazia-o sentir-se mal. Não consigo próprio por os andar a enganar, mas por pensar que bem podiam ter criado gentinha mais esperta. Exacto, podiam…
Apesar da luta de religiões na Terra, a verdade teológica deste universo está nas Sagradas Bolas de Energia, das quais os terrestres (de nascença ou ressurreição) nada sabem. O dito ratinho é, na realidade, uma dessas Bolas, apenas com pêlo. Todas as crenças da Humanidade e afins provêm de alguma manifestação das Bolas de Energia. No entanto, ao contrário de todos aqueles a quem chamamos deuses, as Sagradas Bolas de Energia não se preocupam muito em serem adoradas. Vendo bem, nem sequer se preocupam muito com terem aspecto de bolas, surgindo muitas vezes com outras formas, o que explica muitas aparições (como exemplo, vejamos que a Nossa Senhora, em Fátima, não era lá muito esférica…).
Naturalmente, Ceridwen sabe, ou não fosse a Sábia Suprema, mas não revela, até porque aquelas guerrazinhas a divertem bastante. Ainda hoje se ri quando se lembra do sotaque que a Bola “Deus” Ratinho escolheu para falar…
Entre os poucos que partilham o conhecimento da Verdade com Ceridwen, há ainda quem considere a existência dum ser acima das Sagradas Bolas de Energias, um verdadeiro Deus, que estaria para as Bolas de Energia um pouco como o Ronnie O’Sullivan está para as bolas de snooker. Para Ceridwen, esta é uma ideia disparatada – já alguém viu um 147 de Sagradas Bolas de Energia? Claro que não! Então, podia, no máximo, ser um Ali Carter… Apesar de ter há muito chegado a esta conclusão, Ceridwen não contava o que sabia, rindo-se para si da ignorância dos outros supostos sábios. Vendo bem, Ceridwen ria-se muito sem razão aparente e talvez tenha sido por isso que acabou internada num hospital psiquiátrico…

Capítulo 6 – Deus: tudo o que sempre quis saber mas nunca teve coragem de perguntar

Deus rumou ao Reino 7-3 em 7,3 segundos e reuniu todas as personagens em 7,3 instantes. Tinha ouvido falar de vampiros, sangue, posições menos próprias, reencarnações e outras coisas maradas, e achou que era altura de agir…
No entanto, na Terra, Deus acabava de dar as belas das tábuas com os mandamentos ao gajo lá das profecias e tal, mas, como viajou em 7,3 segundos até ao reino 7-3 passaram-se 7300 anos na Terra, o suficiente para que o pessoal gritasse, suplicasse e rezasse à vontade por Deus que o gajo não ouviria.
Enfim, não se pode deixar os putos sozinhos nem um instante, rebentam logo com a casa…

Mas voltando ao Reino 7-3, a intervenção de Deus fez com que todos ficassem surpreendidos. Até os super-cristãos não acreditavam em Deus… muito menos que ele fosse… assim tão… pequeno…
Porém, sem lhes dar tempo para pensar, Deus disse a todos os personagens 7-3:
- Meuszzz filhoszzz. Eu estei hoji aquei pêra vószz dizere que estais pecando muito e que, por isso, tereis que aguentares com o casteigo máximo, o mais maior grande. Irais ouvir… um discurso sobre oszzz valoires da bida. Por ixo, estais calados e ouvides agora.

Deus, que na verdade não era maior que uma pequena ratazana com um aspecto nerd, começou a falar. E falou, falou, falou. E, para todos os habitantes do Reino 7-3, foi como se tudo demorasse muito mais do que 7300 anos.
Felizmente, adormeceram praticamente todos, despertando apenas com um choro. Quando conseguiram limpar os olhos e recuperar da imensa seca, espantaram-se por ver o pequeno ratinho – Deus – a chorar como… como um ratinho que é Deus.

segunda-feira, 14 de maio de 2007

Capitulo 5.8

-Hum, pois...
-Vou sair – avisou Niel, entrando de novo na sala. - Acho que já percebi a ideia dos pontos cardeais. Até logo, Morfeu, Ceridwen.
-Até logo – respondeu Ceridwen. E, após Niel fechar a porta – Morfeu, é melhor mandares uma ambulância segui-la. Deve ser hoje que cai num precipício.
-É provável, Ceridwen, é provável...

Capitulo 5.7

-Niel, és mesmo estúpida! Alguém aqui falou nisso? - Ceridwen riu à gargalhada. - Andas a cair demais em buracos. Olha, vai à cozinha beber um chá, a ver se isso passa...

Niel saiu baralhada da sala. Parecia-lhe tão claro que tinha ouvido aquilo...

-Morfeu, para a próxima não entres em pânico. Ou então entra em pânico em modo de ultra sons...
-Mas depois tu não entendias...
-Hello? Sou a Sábia Suprema? Trago sempre um tradutor de ultra sons no bolso...

Capitulo 5.6

-Mas a mãe ao menos sabia o suficiente de pontos cardeais para conseguir reencarnar na T... Niel! Olha quem cá está!
-Reencarnar? A minha mãe? - perguntou Niel, já com o ar de quem ia cair outra vez, apesar de não haver ali buracos.
-Reencarnar? A tua mãe? - repetiu Morfeu, quase em pânico.

Capitulo 5.5

-Ela sai à mãe, não sai? - perguntou Morfeu.
-Não... É a mistura extremamente apurada entre a estupidez da mãe e a idiotice do pai...

Capitulo 5.4

-Argh! Maldito Universo 20! - exclamou Rani, a tia de Niel – Cada dia há mais um maluco com tecnologia de hiperespaço! E nós que limpemos os estragos!
-Calma, Rani, é só mais uma aspiradela... - acalmou-a Morfeu – Bem, e tirar daqui a Niel, antes que morra de vez. Já agora, podias ensiná-la a usar um mapa. Anda paranóica com o que lhe deste, mas deve andar a lê-lo ao contrário. Ontem, caiu num buraco num estaleiro de obras; hoje, pelo cheiro, deve ter sido nos esgotos...
-A sério?... Raio da miúda. Saiu tão idiota como os pais. Qualquer dia descobre que não quer ser gótica...
-Sim, realmente, lembra-te do que eu disse há algum tempo: ela só me adoptou porque estava a ver que ia levar tratamento de choque.
-E começo a pensar que tinhas razão. Esta rapariga começa a preocupar-me. E depois há estes tipos que saem do nada e partem a louça da família... Vamos lá tratar da limpeza!
Depois de arrastarem Niel escada acima, de forma a que batesse com a cabeça em todos os degraus, limparam finalmente a sala.

Quando acordou, Niel viu Rani a seu lado.
-Então, miúda? Andas a abusar das quedas, não?
-Acho que ando a ver mal o mapa, tia. Tento segui-lo, mas apanho sempre com buracos.
Rani viu Niel pegar no mapa de lado e percebeu que as escolas do Reino dos Sete Pentagramas (Três dos Quais Invertidos) já tinham visto melhores dias...
-Bem, vou então explicar-te como se usa um mapa. Primeiro, os pontos cardeais...
Ao aperceber-se do nível da explicação, Morfeu saiu rapidamente do quarto, batendo com a asa na testa em sinal de incredulidade. Enquanto escorregava pelo corrimão abaixo (para um morcego que não voa, é melhor opção que descer as escadas), bateram à porta.
Utilizando uma combinação de várias línguas estranhas, Morfeu abriu a porta com um comando verbal (à mão, ou asa, era difícil). Do lado de for a, estava uma mulher com ar bastante gótico e tipo de ser uma pessoa importante.
-Oh, és tu, Ceridwen. Entra, estamos quase na hora do chá, é só a Rani explicar à Niel o que são os pontos cardeais.
A mulher franziu o sobrolho, soltou um “Ai...” de exasperação e entrou.

Capitulo 5.3

Morfeu dirigiu-se lentamente para a despensa, esbarrando na mobilia do corredor e praguejando em todas as linguas que conhecia (inclusivé em ultra sons, visto que é morcego). Nisto, esbarra numa coisa quente e começa a tremer de medo.
-Morfeu, que andas a fazer sem óculos?
-A Niel não me compra mais e os meus estão partidos.
-O raio da gaiata! Toma lá estes – e tirou uns do bolso

A tia de Niel tinha-a vindo visitar. Encontrou a casa com um cheiro horrivel e começou logo a limpá-la. Morfeu tentava não ser sugado pelo aspirador, daí ser ele que o manobrava sempre.
Quando acabaram de limpar tudo, ouviram um barulho estranho, uma especie de “xuiuf” no meio da sala, enquanto um jarrão se estilhaçava. E viram um vampiro tomar forma de repente. Niel, que já tinha tomado banho, desmaiou e bateu com a cabeça. A sua tia pegou na vassoura e Morfeu vociferou em ultra sons para entender o que se estava a passar.
De repente o vampiro desapareceu, após por um pó estranho para a boca. O vampiro, claro está, era Matthieu que se tinha enganado nas coordenadas e, em vez de ir ter ao planeta de Anfira, tinha ido ter uns milhões de parsecs ao lado.

quarta-feira, 2 de maio de 2007

Capítulo 5.00000000000000001

Niel abriu o frasquinho com o líquido escuro e com um conta-gotas deitou duas gotas do líquido na chávena de chá. Lambeu os lábios em antecipação, enquanto fechava o frasco. Arrumou-o no armário, pegou na chávena e sentou-se à mesa, bebericando o chá e apreciando um bolinho de canela. Duas gotas de sangue de barata sempre foram melhores que uma colher de açúcar. Ouviu-se um zunido ao longe, um som agudo que se tornava cada vez mais grave. Enfiou o biscoito de canela na boca. Continuando a bebericar o chá, apreciando o seu peculiar sabor, afastou o prato dos biscoitos imediatamente antes de algo embater na mesa com estrondo, enrolando-se numa bola de pêlo que rebolou pela mesa até se esborrachar no chão. Niel voltou a pousar o prato na mesa e inclinou ligeiramente a cabeça para o lado. Morfeu esfregava as costas com uma das pequenas garras em que terminavam as asas membranosas.
- Vamos ter de resolver esse teu problema - disse ela.
- Não e não! - protestou Morfeu, apanhando os óculos estilhaçados do chão. - Já é suficientemente humilhante só contigo a ver.
- Mas qualquer dia ainda te matas, pá!
- Mas não é normal um morcego não saber voar! É anti-natura!
- Então vais ver tudo mal, porque não te compro mais óculos!
Morfeu protestou e praguejou até sair da cozinha, caminhando lentamente com as pequenas patinhas.
- Damn you! - bradou, ao passar a porta.
- E pára de falar essa língua estranha que eu não entendo!

Após tomar o pequeno almoço, Niel arranjou-se para sair. Lembrou-se do mapa que a tia lhe tinha dado há muito, muito tempo. Abriu a gaveta, pegou nele e saiu de casa. O mapa era muito, muito simples, não tinha nada que enganar. Mas, se for lido ao contrário, não pode conduzir a um sítio bom. Assim, pela segunda vez numa semana lá caiu Niel num buraco. Destra vez não foi num estaleiro de obras, mas num daqueles buracos que costumam estar tapados com tampas no meio das ruas e que acabam nos esgotos.

Morfeu estava muito descansado a tentar ler um livro (os óculos estavam de facto muito estilhaçados), quando ouviu a porta da entrada bater. Ainda antes de ela surgir na sala chegou-lhe um cheiro nauseabundo ao nariz. Rapidamente tapou-o com a patinha.
- Onde caliste delta pez? - clamou.
A resposta que obteve foi uma porta a bater violentamente e o som de água a correr.
- Gaios pala a lapaliga! É bom que não tenha bujo o coledole!
Pobre Morfeu. Lá tinha ele de ir cavalgar o aspirador outra vez.

segunda-feira, 30 de abril de 2007

Capítulo 5 - Sede de sangue

Madalena achou boa ideia explicar-se aos pais, não fosse ficar sem mesada. Controlando-se ao máximo para não saltar para cima de Matthieu pela enésima vez (tivemos de saltar a maior parte, porque, por mais que o sexo venda, temos mais coisas para contar e a tinta ainda é cara), pois a sua garganta começou a brilhar duas ou três vezes – digamos que Anfira e Zaen aproveitaram o tempo no hospital para “pôr a conversa em dia” –, levou-o até ao hospital onde a mãe se encontrava. Após muita conversa e as indispensáveis lágrimas de reconciliação, tudo ficou bem. Os pais até lhe prometeram remodelar o quarto, de forma a incluir paredes à prova de som (soaram campainhas na cabeça de Anfira quando mencionaram isto e ela teve uma leve recordação de gritar bastante com Zaen num quarto com paredes à prova de som e não era por estar chateada com ele…) e portas e janelas blindadas, para evitar mais “incidentes” do género. Tendo em conta que a rapariga é ninfomaníaca, as mudanças acabavam por ficar mais baratas que ir parar ao hospital a toda a hora. E, claro, não é muito agradável estar sempre a vomitar…

Assim, após muitas sessões com o psiquiatra e umas boas doses de comprimidos, os pais de Madalena lá ultrapassaram o trauma. Entretanto, e como gostavam muito de conversar, Anfira esclareceu Zaen em relação a tudo o que se passara.

Quando foram finalmente postos na rua (já ninguém os conseguia aturar no hospital), os dois casalinhos maravilha aproveitaram o belo dia para dar um passeio pela cidade. Por alguma razão desconhecida, Anfira não pensou mais em Filia e nos seus planos para converter a humanidade (ou, pelo menos, os lisboetas), mas há quem diga que andava com uma crise de fé devida às revelações da caneta amarela e ao comportamento pouco cristão do seu observador.

A necessidade de sangue de Matthieu não era, para infelicidade do mundo, satisfeita com sexo, ainda que este fosse em quantidade e de qualidade elevadas. Como tal, não conseguiu resistir. Vendo um procissão numa das zonas da cidade por onde passaram, não conseguiu controlar-se e, desculpando-se como uma ida à casa de banho, que todos acharam real (o gajo é vampiro, por favor!), escondeu-se num local estratégico, de onde podia facilmente ir puxando umas velhinhas para beber. É claro que não era o seu prato predilecto, mas, como tentava ser um cristão aceitável, o vampiro convertido tentava fazer o mínimo estrago possível.

Infelizmente, o seu plano não correu tão bem como esperava. A procissão estava a ser estudada por alunos de Física, como ilustração de um fluxo. A quantidade de velhinhas que entrava naquela rua tinha de ser, dizia o professor, igual à quantidade que saía. Mas, por culpa de Matthieu, não era. Nem fazendo c=1 lá iam. O caos na comunidade científica foi tal que o túmulo de Newton (ou talvez o de Hooke) só não congelou porque o cérebro de Anfira estava bloqueado de emoção a apreciar o desfile católico, o que controlou o que parecia ser mais um disparo na entropia do universo.

Seja como for, ao menos Matthieu saciou a sede.

Capítulo 4.QualquerCoisa

O Dr. Orchouse, que estava de costas, vira-se para Anfira. Ouve-se, vinda não se sabe bem de onde, a Cavalgada das Valquírias, em áudio 5.1, e, afinal não é o Dr. Orchouse, mas uma mulher alta, de aspecto nórdico e porte de super heroína (mas com muito mais estilo que a Super-Cristã Anfira).
- Filia Santíssima, tu aqui?! – sobressalta-se Anfira. – Só me faltava mais esta! Não bastava ter passado de cega a maluca, não! Não chegava ter uma orca como médico. Tinha de vir a minha arqui-inimiga destruir-me num momento de fraqueza...
- Ai, Deuses… – suspira Filia, com falta de paciência para Anfira, conhecida pelos seus neurónios-caranguejo. – Esta cristãzeca é mesmo idiota!
As duas olham-se. Anfira não compreende a situação e Filia tenta não desesperar com a lentidão de raciocínio da sua nemesis religiosa. Do outro lado do quarto, Zaen tem um olhar de quem não pesca nada semelhante ao de Anfira, mas pior, já que nunca ouviu falar de Filia Santíssima nenhuma em toda a sua vidinha pentagramicamente satânica.
É Filia quem decide quebrar o momento de silêncio e explicar tudo antes que morram todos intoxicados com o fumo que já sai da cabeça de Anfira:
- Parece que a tua amiguinha Madalena se andou a fazer ao teu igualmente amiguinho e observador vampiróide e acabaram em casa dela, em cenas de filme para adultos. Ora, os pais dela apanharam-nos em posições, digamos, estranhas – qualquer coisa com telemóveis a vibrar… Nem comento mais, que a tua mentezinha fofa não se deve aguentar.
»Entre vómitos e desmaios, o caos foi tal que aconteceu algo nunca visto, pelo menos desde a última glaciação: o quarto (e tudo e todos lá dentro) congelou. Segundos especialistas que consultei, foi uma forma do Universo compensar o aumento incrivelmente rápido da entropia que ali se deu. Como talvez saibas, é suposto a entropia aumentar no Universo, mas parece que não era preciso ser tão depressa…
»Vai daí, congelou tudo, incluindo a bolota aqui do esquilo, que tentou cuscar o que se passava e ficou em choque.
Anfira soltou um “Aaahhh!” à Tonecas, fazendo Filia suspirar de novo.
Zaen continuava com ar de idiota, possivelmente por não fazer ideia de quem eram Matthieu e Madalena e, especialmente, por não saber da ninfomania desta. Mas pelo menos percebeu o porquê do ar da mulher que tinham visto antes, quando Filia explicou que era a mãe de Madalena.
- OK… mas… então, o que fazes aqui? – questionou Anfira. – Não vieste só para te dares ao trabalho de me iluminar as ideias, suponho…
- Tento manter sempre alguma esperança nesses neurónios católicos, mas já sei que é melhor ter expectativas baixas. De tanto carregarem cruzes, funcionam devagarinho… Mas – continuou Filia, ignorando o grunhido de Anfira e o risinho satânico disfarçado de Zaen – vim para te informar que vou converter esta terrinha de fim de mundo e nada – NA-DA – me vai impedir.
- Ah! Vais então aproveitar-te do meu momento de fragilidade, como eu calculava. Não se pode confiar nestes infiéis… – lamentou Anfira. – Não és uma boa cristã, Filia. Redime-te, enquanto é tempo, ou afogar-te-ei em água benta!
Filia voltou a suspirar, começando finalmente a perder a paciência. Se Anfira tivesse poderes tão maus como a sua inteligência, já a teria destruído, juntamente com as suas Nossas Senhoras, há muito tempo.
- Tenho de explicar o que significa “avisar”? Valham-me os deuses… Só vim informar-te. Vou ser decente e deixar-te recuperar. Já agora, o que é que o teu observador acha que andares metida com um satânico? Sei que ele é vampiro, mas há limites… São tipos destes que dão mau nome aos não-cristãos. Também sacrifica galinhas pretas aí o idiota?
- HAM-BUR-GERS! OK, e, de vez em quando, um pacote de batatas fritas… - defendeu-se Zaen.
- Hamburgers?! – Filia nem queria acreditar no que ouvia. – Bem, ao menos é original… Mas o paganismo não descansa, tenho muito que fazer; agora que estás por aqui na boa, Super Cristã, vou preparar-me para a minha acção de conversão maciça.
E, depois deste diálogo à BD rasca, Filia virou-lhes as costas e foi embora. Segundos depois, o Dr. Orchouse voltou informando as enfermeiras que podiam pôr a cambada toda na rua quando quisessem.

domingo, 29 de abril de 2007

Capítulo 4 - depois do 4.5 e antes do 4.7... talvez o 4.6, mas ninguém sabe ao certo

Voltando a casa de Madalena, esta ainda está na mesma posição (de quatro, em cima da sua cama) à espera de algo. Na verdade, ela está à espera que o tempo aqueça, porque (e agora vem a parte mesmo muito estranha) ela está congelada! Sim, o quarto de Madalena está congelado. Ora, vamos lá explicar a situação. Voltemos à cena em que a mãe da Madalena apanha a sua querida filhinha numa situação ligeiramente anormal e muito, muito estranha: filha, posição de quatro, telemóvel e morcego. A mãe correu para a casa de banho, o pai correu para o quarto e o morcego mandou um guincho. No momento seguinte, Matthieu voltava à carga, ou melhor, a montar a carga. O telemóvel não parou de vibrar e revibrar, apesar de estar desligado (foi-se a bateria!). A mãe, que julgara a filha já vestida, abriu a porta de rompante e quedou-se. Desta vez não havia morcego, mas um homem nu e ainda lá estava a filha, ainda nua e o telemóvel. Só que o que estavam a fazer era tão, mas tão, tão… (não há palavras), que a pobre senhora arregalou os olhos (quase saltaram das órbitas), esticou os braços e, no momento seguinte, estava estatelada no chão, tipo desenho animado. Os dois amantes viraram-se para a mãe de Madalena. Esta pegou no telemóvel, viu que estava sem bateria e atirou-o contra a parede (um telemóvel a menos neste mundo, pelo menos funcional). Os dois acabaram de fazer o que estavam a fazer e lá voltou a rapariga à posição original, para recomeçarem. Apareceu o pai dela. Novamente a mesma cena: ah e tal morcego, mas nada de telemóvel. O pai arrastou a mulher para o corredor e fechou a porta do quarto. Mas, antes de o morcego virar homem outra vez, tudo ficou subitamente congelado, incluindo uma bolota saltitona que entrou pela janela aberta. Um esquilinho de dentes aguçados espreitou pela janela e teve a mesma reacção que a mãe de Madalena.
Zaen dormia na sua cama de hospital. Anfira abriu os olhos e a primeira coisa que viu foi um esquilo de olhos arregalados, braços e pernas esticadas, deitado numa maca, a passar no corredor. Anfira piscou os olhos e carregou no interruptor ao lado da cama. O Dr. Orchouse apareceu e ela virou-se para ele e perguntou-lhe:- Posso saber porque me curaram a cegueira se agora fiquei maluquinha? Oh meu Deus
!

Capitulo 4.5 - Ou as Cronicas do Dr. Orchouse e seus metodos bombasticos

A mulher foi levada para uma enfermaria que ficava no final do corredor e, por isso, com Anfira meia cega (de qualquer maneira, sempre foi meia cegueta, não é? Eh pá, gostar de um tipo como Zaen é o quê? Na minha terra, chama-se “ceguismo”, mas como aqui os pentagramas estão invertidos, escapa…), e com Zaen queimado (ah e tal queimaduras -> dor -> analgésicos -> campo de visão reduzido -> grande moca!), nem um nem outro conseguiram ver muito bem o que se estava a passar.
No entanto, a verdade é que, enquanto a mãe da Madalena via, revia, rerevia e rererevia as imagens com bolinha, algo ainda mais inesperado ocorreu. Enquanto o seu consciente esperava ver o House a surgir com a sua bengala, gritando que ela podia ir para casa e que bastava ver mais filmes com bolinha e o sistema nervoso ficava logo preparado para tudo, eis que surge, também de bengala, mas numa moto (vinda da segunda circular), uma enorme… orca.
- Peço desculpa, mas o Dr. House, mais conhecido como Doutor Casa (ou caseiro) está doente (doente… pois! Está mas é a curar a moca de ontem, aquele drogado arranja com cada desculpa…) e, portanto, ligaram-me para o vir substituir. Portanto (epá, estou sempre a dizer portanto), de que é que se queixa? Hum… não diz nada?
A orca de bengala saca de uma daga (seja lá isso o que for) e manda uma belga transposta à gaja (portanto, uma belga de chocolate), que não reage.
Por momentos, pensa em utilizar outros métodos (belgas não dá… e se tentasse Marias, Oreo?), mas, como tem mais do que fazer, declara:
- Levem mas é a gaja pá morgue, que está morta.
- Mas, Doutor Orchouse, ela ainda respira… - comenta uma enfermeira.
- Psst, cala-te! Eu é que sei. Se digo que está morta é porque está. Agora vá, despachem-se que tenho mais que fazer!
E passa imediatamente para os casos seguintes: Anfira e Zaen.
- Bem, parece que aqui a gaja é cegueta, não? Para andar com um tipo como tu… - comenta o Dr. Orchouse. – Portanto, isto com descanso vai lá. Vão mas é os dois para casa, separados, ahm? Nada de poucas vergonhas…, que isso depois de mortos e queimados não se vai notar nada.
E, dito isto e para melhor ainda mais o extremo espanto de Anfira e Zaen, os pentagramas invertidos voltam a fazer das suas e a constante de Planck pentagramicamente invertida (portanto, momento linear esquisito) permite uma vibração estranha no espaço-tempo próximos das três personagens que conviviam alegremente, e eis que surge (magia das magias, espanto dos espantos – OK, também se pode pôr uma musiquinha) uma (ou mais uma) caneta amarela. Anfira não vê – porque está (é) cegueta –, mas mesmo assim adere ao espanto (tipo, só naquela de parecer melhor a cena). E, quando nada o fazia prever, a caneta começa a falar:
- Epá, isto é assim, pá, vocês estão aqui, pá, porque eu é que vos escrevi, pá, e por isso, pá, a vossa vida não tem qualquer sentido, pá, e vocês não passam de tinta (o meu excremento, eheheh!). Por isso, pá, se pensavam que a resposta a todas as questões do universo era 42, pá, estão enganados! É 41 e é porque eu digo, pá! Agora vou indo, tenho de ir acabar com os sonhos e crenças bonitos das outras personagens, pá, e acabar com esta animação social!
Anfira chorou porque afinal Deus não era real, Zaen teve uma vontade enorme de sacrificar hamburgers e batatas fritas e o Dr. Orchouse ficou na boa porque já sabia.

Capítulo 4 - Continuação III

Enquanto homens se transformavam em morcegos (não pensem que só Matthieu se transformara naquela noite), posições sexuais complicadas eram conseguidas (também não era só Madalena) e mães apanhavam filhas em posições estranhas, com morcegos no tecto e telemóveis a vibrar (há por aí muito morcego, muita tarada sexual e é melhor nem quantificar os telemóveis a vibrar naquelas situações…), Anfira e Zaen chupavam pastilhas para a garganta, abraçados a ver o nascer do dia. É que não se podiam estar sempre a beijar, tendo em conta que é preciso respirar de vez em quando e passar tanto, mas mesmo tanto, tempo a falar só se pode acabar com uma valente dor de garganta com afonia incluída. Bom, se a capa não tivesse sido quase destruída naquela estação de metro, tinha sido logo ali, apesar de Anfira dizer que não e coisa e tal e casamento e bla bla bla. Mas, sem capa nada feito! Assim, depois de uma noite de conversa, olhavam agora para o Sol, enquanto bebiam chá de limão com mel, perdidos em pensamentos idiotas.
- Ai! Caraças pró Sol – gritou Anfira, tapando os olhos com as mãos e largando a caneca de chá a ferver, que embateu no chão e molhou o Zaen todo. Este soltou um grito angustiado e levantou-se saltando de um lado para o outro.
- MAS TU ESTÁS DOIDA? – bramou ele, despindo a roupa. – Queimaste-me. Mas o que se passa contigo?
- Cala-te, pá! Não vês que estou com cegueira temporária?
E, como tal, passaram o resto do dia numa enfermaria dum hospital qualquer daqueles privados e todos informatizados tipo House. Um com queimaduras graves, outra cega. Passaram a tarde toda de mão dada a olhar para quem passava no corredor (ele, porque ela não via nada). A uma certa altura, viram passar uma mulher em estado de choque, deitada numa cama, de olhos arregalados e braços estendidos para o ar, tipo mosca morta de costas. Eles não sabiam, mas era a mãe de Madalena.

Capitulo 4 - Continuação II

E, quando a mãe de Madalena abre a porta, depara-se com a cena mais estranha: Madalena despida numa posição esquisita (digamos que estava “de quatro”), com uma mão num sítio estranho e um morcego pendurado no tecto. Nisto, começa o telemóvel a vibrar… A mãe de Madalena fecha a porta do quarto, meio enojada, vai vomitar para a casa de banho e diz ao pai de Madalena:
- Faças o que fizeres, não entres no quarto. As nossas suspeitas confirmam-se: a Madalena é tarada sexual. E, para além disso, acho que tem um fetiche que envolve morcegos e telemóveis.
- O quê?!
- Não perguntes mais nada… – e vomitou de novo.

Capítulo 4 - continuação

E não estava.

Madalena respirou de alívio. Tinha partilhado com Matthieu a sua inquietação e ele não tinha ficado muito satisfeito, deixando Madalena a imaginar-se como mãe solteira e abandonada, o que a fazia desesperar.

Com o desvanecer de todo este pesadelo, Madalena correu a contar a Matthieu, sendo que o sentimento de alívio de ambos (o vampiro não se imaginava a aturar pirralhos) deu lugar a uma extrema felicidade, que, inevitavelmente, os levou a uma nova sessão de sexo desenfreado, agora com a devida protecção, só numa de prevenir…

Isto deu-se em casa de Madalena, pouco depois do nascer do pentagrama esquisito, quase parecido com uma estrela de quatro pontas, quase parecido com uma cruz, a que, curiosamente, chamavam Sol, onde Aine tinha resolvido reencarnar como Anfira – aqui, nesta Terra paralela, os vampiros só saem durante o “dia”.

Os pais de Madalena preparavam-se para sair de casa nessa “manhã”, quando ouviram sons estranhos vindos do quarto da filha. A mãe bateu à porta, mas, com a “actividade” a que se dedicavam no momento, Madalena e Matthieu não ouviram nada. A mãe, ouvindo estranhos gemidos, entrou…

Capítulo 4 – Vibrações

Madalena, após toda aquela excitação, caiu em si. Tinha tido sexo com um vampiro! Sexo absolutamente fantástico, embora mais para o fim da noite Matthieu fugisse um bocado dela, com a airosa desculpa:
- Pá… Isto está mau… Preciso de… aaaa... tipo… aaaa… SANGUE! É isso! Já venho. Tenho um saco de O Rh- no frigorífico.
Madalena achou estranho, mas quem era ela para argumentar? Ele não a ter atacado já não era nada mau…

No dia seguinte, quando acordou, veio-lhe a inevitável pergunta: estaria grávida? Para esclarecer as suas dúvidas, em vez de ir a uma farmácia, escreveu para o consultório sentimental de uma muito conhecida revista cujo nome começa por M, acaba em A e tem pelo meio as letras ARI.
A carta dizia o seguinte:

Querida Maria,

Tenho uma questão que me atormenta. Conheci um rapaz que descobri que era vampiro. No entanto, fizemos sexo louco e desenfreado. Ele pegou em mim [conteúdo explícito que não foi possível transcrever por motivos alheios aos autores] e agora acho que estou grávida. Será possível?


A resposta veio na edição semanal e dizia:

A dúvida que expôs é bastante pertinente, apesar de eu achar que o vampirismo possa ser só fruto da sua imaginação. Pelo sim, pelo não, compre um teste de gravidez.

Madalena tinha esperado ansiosamente por aquela resposta. E achou-a bastante elucidativa, indo de imediato à farmácia comprá-lo.

Capítulo 3 - continuação VIII (e final)

Dado que já tinha revelado a sua dedicação ao satanismo, Zaen não viu qualquer mal em explicar os rituais que realizava com a sua banda.

Então, contou que tinham começado como satânicos normais, sacrificando galinhas pretas em altares com panos pretos e velas pretas, nas noites mais negras dos negros dias que marcaram o início da sua carreira. O negrume destes dias devia-se essencialmente aos problemas financeiros bastante comuns nos primeiros passos de uma banda ainda desconhecida. Bastante pragmáticos, como qualquer verdadeiro satânico, cedo de aperceberam de que tinham de escolher entre as galinhas (bastante caras) ou a renovação de algum equipamento necessário à gravação do seu primeiro trabalho. Incapazes de desistir dos seus sonhos musicais, mas também sem coragem de abandonar as suas crenças, optaram pelo sacrifício de hamburgers, que lhes saíam bastante mais em conta e que podiam sempre ir comendo nos intervalos das gravações. Pediram patrocínio a várias marcas famosas, sendo que acabaram por fazer contrato com o Burger King, porque tinha as melhores batatas. Assim, tinham hamburgers saborosos e com um desconto igualmente apetecível e ainda ganharam um pano grátis para o altar, em troca de apenas alguma publicidade.

Escusou-se a explicar a questão do disfarce, alegando que lhe estava a dar justificações a mais, dado que ainda não sabia nada sobre ela e que lhe contaria o resto quando a levasse a sua casa.

Como se vê pelo tamanho da explicação, a conversa ocupou realmente a maior parte das tais 10 horas, com o já discutido alívio de Matthieu como consequência, já que Madalena lhe saltava para cima cada vez que via aquele brilho tipo Rudolfo, a rena.

Capítulo 3 - continuação VII

O brilho da garganta de Matthieu é, certamente, intrigante (OK, é, principalmente, estúpido, mas também um pouco intrigante). Este é a consequência de ter ficado com o pendente de Aine/Anfira entalado na garganta. Parece que o pendente é assim para o mágico e brilha cada vez que ela beija o seu verdadeiro amado (que, acredite-se ou não, é mesmo o poser do Zaen). Assim, nas 10 horas que Anfira e Zaen passaram no autocarro, Matthieu parecia, basicamente, uma árvore de Natal, o que fez com que Madalena se derretesse ainda mais do que já estava.

Juntando à grande qualidade da luminotecnia, há que relembrar a magnífica sonoplastia da situação (respiração à Darth Vader), pelo que Madalena não teve hipótese e ficou completamente KO – de tal maneira que nem foi preciso contabilizar a sua ninfomania.

Ainda no autocarro, nada além duns beijos se passou entre Anfira e Zaen, pois ela era demasiado casta para ir além disso antes do casamento. Vendo pelo lado positivo, o pendente não se iluminou tantas vezes como seria de esperar, deixando Matthieu respirar um pouco na sua “situação” com Madalena.

E as 10 horas também não foram exactamente passadas aos beijos. Ao início sim, mas depois Anfira vislumbrou uma cena muito estranha num canto obscuro do autocarro: um altar com velas rosa fluorescente, sobre um pano verde e amarelo, semelhante à bandeira do Brasil, mas, em vez do Cruzeiro do Sul e da expressão “ordem e progresso”, tinham o logotipo do Burger King. Do lado oposto ao altar, viu ainda um fato de homem das cavernas (moca incluída).

Obviamente, Anfira exigiu explicações. Parecia-lhe estar a meter-se nalguma coisa demasiado obscura para o seu gosto. O altar podia ser em cores berrantes, mas de que havia um propósito obscuro por detrás de tudo aquilo tinha ela a certeza.

sábado, 28 de abril de 2007

Capitulo 3 - Continuação VI

- Isso julgas tu, ó herege vindo dos infernos! Por alguma razão isto está pejado de igrejas!
- Sim, é para a Missa Negra!

Anfira reconheceu uma transeunte. Era Madalena, a sua amiga de infância e vinha de braço dado com o seu observador, o vampiro Matthieu, que tinha os dentes ferrados no seu pescoço.
- Oh meu Deus! Aquilo é nojento! Valha-me Nossa Senhora!
- Dizes isso porque deves ser virgem… Queres experimentar com um satânico? Connosco é sempre melhor.
- Só se te converteres…
- Argh!
- Oh, mas é tão fofo!
E, num ápice, Zaen salta para cima de Anfira e tira-lhe a capa, que coloca no chão. Nesse momento, da estação de metro, sai uma multidão de gente que lha espezinha…
- Deixa estar, vamos para o meu autocarro. Pode estar bloqueado, mas são só as rodas.

Anfira vê Madalena desmaiar nos braços de Matthieu, que pega nela ao colo e a leva dali para fora.
- Outra vez a deixar jovens inconscientes – pensou Anfira. – Este meu observador não tem emenda. Que Deus lhe perdoe.

Zaen pegou em Anfira e levou-a para o autocarro. Quando ia a subir os degraus, escorregou e caiu em cima dela.
Ficaram tão próximos que se beijaram.
A alguma distância dali, Madalena acorda na cripta de Matthieu, devido ao brilho do pescoço dele, e acha aquilo tão sexy que lhe salta logo para cima. Dez horas depois, e após alguns brilhos da garganta de Matthieu e muitas outras coisas que envolvem nudez, gemidos e afins, Madalena estava cá fora.

Capítulo 3 - Continuação V

Anfira e Zaen ficaram durante longos minutos a olhar um para o outro, até que a paralisia cerebral de Anfira passou (após o House lhe ter metido para a veia 20mg de qualquer coisa com nome esquisito).
- Doce Flor? – perguntou ela, desdenhando as duas palavras. – WTF?
Zaen coçou a cabeça com os dedos, enquanto pensava no que tinha dito. Não conseguindo compreender a sua própria expressão, encolheu os ombros e colocou-se numa posição nipónica de combate. Apontou-lhe um dedo:
- Mas tu és a Super Cristã, a minha inimiga! Vem, vamos combater! Está em jogo a religião neste terriola de fim de mundo! E reinará o satanismo!

Capítulo 3 - Continuação IV

Ele não percebeu bem a ideia. Realmente, não há nada para perceber, nota-se que a resposta não faz sentido nenhum. Mas Zaen (assim se chama o tipo) atribuiu o que achou ser lentidão de raciocínio da sua parte ao stress do dia.

Zaen é, na realidade, a reencarnação de Zos, o guarda pessoal de olhos azuis cujo sangue ajudou na decoração do palácio. Zos não tinha andado, simplesmente, a fazer-se à Rainha: parece que era mesmo amor, o que fica demonstrado pelo facto de ambos terem reencarnado como completos opostos, ou seja, se fossem cargas eléctricas, iam atrair-se, mas, mesmo não sendo, houve atracção de qualquer maneira.

Zaen, devido a traumas semelhantes aos dela, mas com efeito inverso (talvez por falta duma dentada de vampiro), era vocalista duma banda do chamado “fofo metal”, assim à moda finlandesa, chamada Defeito Quântico. Salta à vista que formam o par perfeito. OK, talvez não…

Zaen atribuía então a falha no pensamento ao stress daquela manhã, em que o autocarro da sua digressão tinha sido bloqueado pela EMEL na baixa lisboeta (o ticket tinha expirado há muito). Aborrecido e sem nada para fazer até à noite em que apresentava com a sua banda o novo álbum J’ai bu tout ce sang (coincidência ou não, estes tinham uma evidente panca por vampiros e francês, em especial por vampiros franceses), Zaen tinha decidido passear um pouco.

Capitulo 3 - Continuação III

Anfira ia muitas vezes à missa, como uma boa cristã. E, tendo comido a hóstia e bebido o sangue de Cristo, foi até ao confessionário e transformou-se no seu alter-ego super-heróico, a Super Cristã, pronta a combater todos os pagãos infiéis. Quando, no seu disfarce de super-heroína, saiu da igreja, deu de caras com um moço, que tinha uma tatuagem a dizer “Amor de Mãe” no braço.
O rapaz era um bocado estranho e, quando a viu, só foi capaz de dizer:
- Doce Flor!
Anfira, apanhada de surpresa por tal personagem, só teve tempo de dizer:
- Sou 50% gay!

Capítulo 3 - Continuação II

Ao bom estilo da Buffy (até porque isto mete vampiros), Matthieu (o vampiro) voltou a dar uso à caneta amarela e ao aspegic e surgiu novamente junto de Anfira, agora como seu observador e conselheiro, a ver se arranja maneira de lhe pôr outra vez os dentes no pescoço (vampiros… nada a fazer).

Capitulo 3 - Continuação I

Foi neste lindo e bucólico panorama (tirando a parte dos pássaros) que Anfira cresceu, com alguns traumas por, na outra vida, ter sido gótica e mordida por um vampiro… bla bla bla… suicídio. Como tentativa (frustrada, diga-se) de cancelamento do vampirismo e do goticismo, Anfira tinha uma freira como perceptora, tomava todos os dias banho em água benta e tinha, sobre o berço, um móbil feito com cruzes e alhos e coraçõezinhos cor-de-rosa.
Como a irmã da gó-mor era uma outsider, que vivia noutro planeta (portanto, era uma pessoa normal), tentou dar uma educação normal à filha/irmã. Mas foi pior a emenda que o soneto: alguns traumas foram curados, mas em vez de sangue humano começou a beber sangue de Cristo e tornou-se na Super Cristã (uma super heroína e, como tal, bastante viciante).

Capítulo 3 – Pois, parece que renasceu…

Cantavam os passarinhos no dia em que algo de muito especial acontecera. A aurora fora anunciada e o choro da criança reverberou pelo quarto, abrindo algumas rachas nas alvas paredes adornadas com candelabros de cristal, que volta e meia cegavam o pessoal. A mãe da criança, que fora a sua irmã no passado dá-lhe o nome de Anfira. Os passarinhos continuaram a cantar, à medida que a criança crescia, apesar de alguns terem morrido com a gripe das aves.

sexta-feira, 27 de abril de 2007

Capítulo 2.5, que trata de Niel e da sua tara por sangue de barata

Antes de vermos Aine renascer qual fénix sem penas das cinzas, tal como o belo do guarda de olhos azuis, que por acaso se chamava Zos, e de seguirmos a sua bela vida naquele planeta que orbita aquele pentagrama distante e estranho de quatro pontas que mais parece uma cruz, vamos ver o que se passa entretanto com a filha de ambos, Niel de seu nome...

Num sistema solar far far away...

[entre a musiquinha de abertura dos filmes Starwars]

Num planeta verde e azul, com água e plantas e terra e passarinhos (acho que estes não têm gripe das aves, mas por vias das dúvidas o melhor é tomar Tamiflu), eis que surge uma rapariga saltitona no campo de visão, com um vestido esvoaçante de cores garridas e os cabelos soltos ao vento, que ondulavam ao sabor deste. E eis o mar ao longe, e a erva daquele extenso relvado que se perdia no horizonte, juntamente com o onírico azul. E a rapariga saltita, e rodopia e salta e dança, de braços abertos e cabeça erguida para o céu. Oh, mas que imagem tão bela! E eis que a rapariga sai do campo de visão, assim tão de repente como se fosse o Songoku. De seguida ouve-se um baque e um ui guinchado e estridente que fez os sonoros passarinhos levantarem voo das árvores que se encontravam a cerca de um quilómetro do local. Niel, distraída com os seus pensamentos, não se tinha apercebido do enorme buraco no meio da erva, apesar das fitas a vedarem o local e dos imensos sinais sonoros e luminosos. É o que dá andar a saltitar num estaleiro de obras. Há sempre um buraco à espreita! Adiante. Depois de se ter levantando e recuperado do embate com o chão, alguns metros abaixo do belo relvado, começa a sua actividade favorita: procurar baratas. Vá-se lá entender esta rapariga, mas adora perseguir baratas e beber o seu doce (diz ela) sangue. Enfim, manias. A sua tia diz que a culpa é do vampiro que mordera a sua mãe quando estava grávida dela. Ainda tiveram esperança que por alguma arte mágica desconhecida ela nascesse vampira (tipo osmose, ou algo do género), mas tal não aconteceu. No entanto, desde criança que Niel revelara alguns gostos deveras estranhos. O seu morcego de estimação, o Morfeu, é que não pára de lhe dizer para não beber sangue de barata, porque as baratas andam no chão e o chão está sujo e ela pode apanhar alguma doença e depois é um problema, porque o serviço nacional de saúde anda mal naquele planeta e o médico fixe está noutro planeta a curar esquilos e mães chocadas (próximos episódios, ups, capítulos) e não tem tempo para ir descobrir de que doença exótica e alienígena padece a filha da Rainha do Reino dos Sete Pentagramas, Três dos quais Invertidos.

Regressada a casa, nas catacumbas de um centro comercial, que é para estar bem escondida dos tipos e das tipas maus da fita desta história, que vão aparecer não tarda nada, vai tomar um banho e esfregar pomada nas partes doridas da valente queda que deu no estaleiro de obras onde vão construir o novo hotel junto à praia. Aquela ida ao relvado tinha um objectivo. A sua tia havia-lhe dito que chegara o momento de conhecer toda a verdade sobre a sua identidade e sobre o que acontecera aos seus pais. Para isso disse-lhe para seguir um mapa velho e amarelado, que indicava o caminho para um local marcado com um X. O problema é que, por ter vivido tanto tempo na escuridão das catacumbas, sempre que saía para a luz a rapariga entrava em parafuso e só queria era dançar e correr e coisas do género. Fotoparanóia, dizia Morfeu, que era o morcego mais sabedor daquele planeta (tinha óculos e tudo, uns pequenos, feitos à sua medida. Mais um oculista internado num hospital psiquiátrico. E já lá vão quatro, porque o Morfeu volta e meia tem de mudar de lentes). Mas Niel não tinha seguido o mapa, de facto nem o tinha levado. Esquecera-se dele em cima da mesa ao pé da porta de entrada, bem à frente dos seus olhos. Enfim. A verdade vai ter de esperar mais um dia... ou dois... ou três.... bem, tendo em conta que a memória da rapariga é fraca suponhamos que num dado dia n ela se lembra de levar o mapa quando sair de casa, que é como quem diz das catacumbas do centro comercial, para ir apanhar baratas. Mas é um acontecimento estatístico, com um desvio padrão grande, por isso não esperem nem em pé nem sentados. O melhor mesmo é deitados. Bom, não esperem. Quando isso acontecer talvez o universo já não exista. Bom, tenhamos fé que será em breve.

quarta-feira, 25 de abril de 2007

Capítulo 2 - A criança que só serve para justificar o banho de sangue que fica bem no início de qualquer história

Eis que nasce a filha de Aine e do guarda. A tristeza é geral e, desengane-se quem pensou o óbvio, não tem nada a ver com a cena de serem góticos. Como era de esperar, a traição ao marido por parte de Aine foi logo topada e, ainda que o próprio vivesse bem com isso, o pai dela não achou muita graça à situação. Somando ao seu fraco sentido de humor o facto de ter notado que o salão do palácio precisava de um pouco mais de cor, concluiu que não havia nada mais perfeito para melhorar a decoração que umas gotas de sangue de traidor no chão. Com o seu sempre activo sentido prático, notou também que assim até dava uso à espada da família que já andava a ganhar pó da falta de uso. E, como se não fossem já motivos suficientes para dar cabo do rapaz, o pai de Aine ainda tinha um ódio de estimação por tudo quanto fosse guarda real (ódio este comum à maior parte da população masculina do Reino, visto que os guardas pessoais são os únicos homens a quem é permitido viver no planeta da Rainha, habitado exclusivamente por mulheres, devido a uma lei bastante estúpida que é fulcral noutro livro mas que aqui não interessa nada). Há ainda que salientar que, para o pai de Aine, o facto do guarda ter olhos azuis não era desculpa para ter a mania, muito menos para se fazer à Rainha.

Apartes à parte (!), a criança nasceu já órfã de pai e com uma mãe, para além de gótica por natureza, agora ainda mais deprimida com a morte do amor da sua vida e, ainda por cima, mordida por um vampiro. Era impossível uma criança assim vir a ser uma goticazinha normal. Era simplesmente impossível.

Acredite-se ou não, em vez do clássico chorar, Niel – assim se chamava a miúda – riu assim que nasceu. Ceridwen, a Sábia Suprema do R7P3I percebeu imediatamente que aquela ia dar trabalho: dali estava para vir muita tragédia… E, na verdade, a única característica dark que Niel veio a desenvolver foi um certo gosto por sangue de barata. Bom, também houve um dia em que adoptou um morcego a que chamou Morfeu, mas desconfia-se que isso foi só para evitar o internamento que parecia iminente.

Para evitar que Aine levasse a filha consigo quando se lembrasse de se suicidar (momento que parecia cada vez mais próximo), os sábios do Reino disseram-lhe que ela tinha nascido morta. Com todo o desgosto aliado ao facto de ser gótica, Aine suicidou-se, realmente, pouco tempo depois do nascimento de Niel. Como queria uma morte altamente dramática, foi no salão, após convocar todo o pessoal para uma reunião, que pegou na espada do pai (agora com sangue seco em vez de pó) e a espetou no ventre (vulgo barriga).

E foi o caos.

Apesar da decoração ter sido novamente enriquecida com mais gotas de sangue no chão e haver agora também espirros vermelhos nas paredes, houve grande revolta entre os criados encarregues da limpeza, para quem era óbvio que nem limpando com ácido o salão voltaria a ser o mesmo. E havia também o pormenorzinho do problema de sucessão, porque Niel, para além de ser ainda bebé, era mantida em segredo, e porque o Rei se matou a seguir a Aine, numa de solidariedade gótica que nenhum não-poser conseguirá alguma vez entender.

Ninguém sabe o que sucedeu a seguir, mas uma guerra pela sucessão juntamente com uma revolta popular só pode ter resultado nalguma coisa com sangue em grandes quantidades, agravando ainda mais a revolta da secção de limpezas, levando a mais sangue e por aí em diante. Considerando que já temos sangue suficiente para um só capítulo, passemos para outro planeta, num pentagrama distante e estranho, quase parecido com uma estrela de quatro pontas, aproximadamente semelhante a uma cruz, onde Aine resolveu reencarnar.

segunda-feira, 23 de abril de 2007

Capítulo 1 - Do Reino e seus habitantes

O Reino dos Sete Pentagramas (Três dos Quais Invertidos) existia num universo paralelo ao do Reino das Sete Estrelas (que, afinal, é uma espécie de federação intergaláctica governada por gajas; assim uma espécie de Ogame mas fofo), onde, em vez de haver estrelas a brilhar no céu, há pentagramas (alguns dos quais invertidos).

[Nota para astrofísicos: a diferença técnica entre estrelas e pentagramas, para além da forma, é que estes emitem no infrapreto.]

Enfim… reino peculiar.

Este reino é governado por Aine, uma rainha melodramática, que está grávida do guarda-costas, tendo, portanto, encornado o marido, que, por sinal, até nem se importa muito com isso. Como qualquer Rainha do Reino dos Sete Pentagramas (Três dos Quais Invertidos) que se preze, a miúda era toda gótica.

Do outro lado, temos Matthieu, vampiro de profissão, avec la vrai siège du sang, escalabitano de origem e, portanto, 100% abetalhado e forcado nos tempos livres (ou, em português, de maior ressaca). Não se sabe bem como Matthieu foi parar ao tal Reino (também chamado R7P3I para poupar saliva e, sobretudo, tinta), mas consta que mete canetas amarelas e bastante aspegic, donde se conclui que não queremos saber mais nada… Tudo o que se sabe é que o tipo tinha sede e o sangue existente no R7P3I parecia-lhe tão bom como qualquer outro. E depois, beto que é beto só bebe sangue de Rainha.

Resumindo (para quem só chegou agora), temos: Matthieu = vampiro beto com tiques afrancesados; Aine = Rainha gótica com sangue apetitoso.

Aproveitando um momento de distracção da Rainha, Matthieu salta de trás do cortinado e morde-a – no pescoço, obviamente, o tipo é vampiro. O problema é que, com a sede, também lhe “bebeu” o pendente que ela trazia ao pescoço, o que o fez engasgar-se.

Facto de trivial demonstração, Matthieu não morre assim (vampiro e tal…), mas aquilo trouxe-lhe duas consequências: uma ainda não interessa muito, mas mete coisas que brilham, portanto promete; a outra é que, como havemos de verificar, para nosso grande aborrecimento, ficou com uma forma estranha de respirar, que lembrava claramente a respiração do (entre a Marcha Imperial!) Darth Vader.

domingo, 22 de abril de 2007

A história começa agora


E agora, que as apresentações já foram feitas, vamos começar a nossa bela história satírica destes livros. Preparem-se...

Cronicas dos Gravitoes do Broloco (Rebeldes os maganos)

Afonso era um neard chato e que não largava o computador nem por nada (e ainda por cima meio def porque não podia tomar substâncias "estranhas" - o coitado nem um copo de bagaço podia beber, quanto mais fumar uma ganza - faziam-no viajar no tempo de forma não controlada), até ao dia em que entrou no computador errado (NASA), e, sem saber como nem porquê, do fumo do seu computador surgiu um diário, e, depois uma rapariga (gira e tal), vinda directamente de um universo paralelo, onde as regras, a igualdade e o princípio do todo imperam de uma maneira inimaginável para um cidadão do nosso mundo (bla bla bla... who cares?). Ora o que é que um neard informático faz com uma rapariga de um outro universo, que nunca sequer teve a oportunidade de sorrir porque a sua sociedade não o permitia?... Acalmem essas mentes perversas... a resposta é... Ajuda-a a voltar para o seu Universo! (dahh o gajo é neard...:P se ainda fosse o gajo da caneta amarela, agora este gajo que nem uma bjeca bebe... desgraça, é uma vergonha para a raça tuga...). E, no meio disto tudo, os gravitões do broloco (rebeldes) vêm ajudar à festa, e mostram que, no fundo, eles são a estrutura "física" do pensamento do Universo como um todo. Enfim, o Afonso não podia beber nem uma imperial, mas os outros (e sobretudo o escritor)... de certeza que andam a papar os belos dos cogumelos (alucinogénios claro)... ou será Kannabis? Descubram vocês mesmos, aqui mesmo, no Reino 3-7 (ups, isto era o resultado do SLB-SCP)...

(...)

Resumo Resumido sobre as Sombras de Sangue

Madalena nem queria acreditar no que aquele estranho e cativante homem lhe estava a dizer. Dizia-se vampiro, tudo nele transpirava a sua essência masculina inebriante, algo típico dos vampiros, apesar de Madalena achar tudo aquilo que ele dizia muito rebuscado.
Ele era perfeito, demasiado galante e inteligente para alguém deste século.
Madalena não acreditou muito nele a princípio. Mas havia alguma coisa nele que a fazia perder o controlo. Como mulher de ciência e inteligente que era, a desconfiança acompanhou-a até ao dia em que ele a levou para sua casa e lhe mostrou que tudo o que dizia era real, muito real.
O que ela não sabia era que Matthieu procurava alguém como ela há já bastante tempo. Ela era diferente. Havia algo nela que o atraía de um modo que ele achava impossivel de acontecer. Matava para saciar a eterna sede que o atormentava todas as noites. Mas ela... Ela a morte não levaria tão facilmente, ele não lhe daria esse prazer. Aristocrata francês, vampiro há séculos, foi no vinte e um que descobriu aquela que há tanto tempo procurava.

Resumo rápido de Noite sobre Ankaa e A Rainha Renascida

Era uma vez uma rainha chamada Aine. Era uma vez um guarda da rainha chamado Zos. Viviam num planeta chamado Ankaa, onde alguns humanos tinham Poder. Aine e Zos amavam-se, mas a Lei que vigorava naquele Reino das Sete Estrelas, da qual faziam parte, impedia-os de serem felizes juntos. O consorte de Aine era o melhor amigo deles, apoiando o seu romance secreto, enquanto a mãe dele, Tiarina, maquinava um plano para destruir a rainha e se apoderar do trono. Tiarina possuía uma forma de Poder muito forte, o Controlo da Mente, que lhe permitia dominar mentes fracas a seu bel-prazer. Ao descobrir que a rainha esperava um filho do guarda e não do seu filho, Dolan, apoderou-se da mente de Zos e fê-lo crer que amava a sua filha Filia, que se havia apaixonado por ele. A dor dominou o coração de Aine até ao dia do casamento de Zos com Filia. Mesmo estando a ser manipulado, Zos não conseguiu trair Aine na sua noite de núpcias, conseguindo libertar-se do controlo de Tiarina quando esta perdeu os sentidos de tão bêbada que estava nessa noite. Aine ajudou Zos a fugir, mas este acabou por ser capturado e julgado como traidor, morrendo com uma espada cravada no peito. A título de proteger a criança, Ceridwen, a Sábia Suprema do Reino e amiga de Aine, mandou esconder a pequena Niel num lugar seguro e disse a Aine que a sua filha havia nascido morta. A angústia e a dor não foram suportadas por Aine e, fazendo uso da espada do seu amado, matou-se em frente a toda a corte. O seu exemplo foi seguido pelo seu grande amigo e consorte, Dolan. O que nenhum deles sabia é que existia uma profecia com mais de setecentos anos que predissera as suas mortes, tal como os seus renascimentos.
Vinte anos depois, Anfira (Aine renascida), Zaen (Zos renascido) e Darien (Dolan renascido) encontram-se pela primeira vez no aniversário dos gémeos Anfira e Darien. A química entre Anfira e Zaen é indiscutível, assim como a amizade que une os três. Há uma batalha que têm de travar: recuperar a memória e salvar o Reino das Sete Estrelas das garras de Basten, que ambiciona o controlo de toda a Galáxia...