segunda-feira, 10 de março de 2008

Capítulo 10 [entra música de star wars] - O ataque da caneta amarela

Há uma altura na vida para tudo, até para carregar no botão reset. Há dias que o o Dr. Qualquercoisa Palmer estava na mesma posição, dedo esticado na direcção do botão vermelho (os botões de reset são quase sempre vermelhos, se não forem pitem ou devolvam o aparelho, pois tem defeito. Os que explodem coisas, abortar operações ou ejectar também são. No caso de ter estes vários botões num mesmo aparelho tenha cuidado para não se enganar.). Tomou coragem e carregou. O pequeno aparelho, uma caneta amarela, piou como um relógio do chinês que levou uma pancada e voltou a ligar-se. O Dr. Qualquercoisa Palmer sorriu. O seu abridor de wormholes portáteis estava a funcionar. Finalmente iria conhecer outro universo, outros mundos.

Rapidamente pegou numa folha de papel, que já ninguém usava, numa caneta, cuja única utilidade era escrever naquela coisa arcaica chamada folha de papel, e escreveu uma anotação para a fêmea com quem havia celebrado um contrato de troca de fluidos: “Portanto, vou a outro universo comprar tralha e já volto”.

Colocou-se em posição de partida e carregou no botão azul. A caneta começou a vibrar feita maluca e um buraco no tecido do espaço-tempo apareceu mesmo à sua frente.

“Portanto deve ser isto”.

Enfiou a cabeça no buraco, depois o corpo e por fim desapareceu. O buraco fechou-se.

Anfira olhava para Zaen, Zaen olhava para Anfira, os outros olhavam todos uns para os outros. Subitamente Anfira e Zaen desapareceram sem deixarem rasto.

“Onde é que foram?”, perguntou Matthieu.

“Who cares?”, respondeu Madalena, encolhendo os ombros.

Zaen olhava, olhava.

“Pêra lá, tu não és a Anfira. A Anfira não é cinzenta nem tem antenas”, disse Zaen.

“Não são antenas! Portanto, são receptores de sinais electromagnéticos, portanto.”

“Ah… E quem és tu, pá?”, perguntou Zaen.

“Sou o Dr. Qualquercoisa Palmer, perito em canetas amarelas manhosas, portanto. E, portanto, quem és tu?”

Anfira olhava para os grandes olhos verdes e os grandes olhos verdes olhavam para ela. Um bafo quente atingiu-lhe a cara e ela pestanejou.

“Foste à praia, Zaen? Estás um bocado preto. Tens de cuidar dessa pele”.

Anfira afastou-se o suficiente para ver bem quem estava à sua frente.

“Mas tu não és o Zaen”. Ela olhou de alto a baixo. “O Zaen não tem cauda.”

“Mas quem és tu?”, perguntou o que estava à frente dela, com uma voz rouca e grave que fez tremer o chão.

“Eu sou a Anfira, a Super Cristã, ó bicho… hum… estranho. És um lagarto?”

“Dragão, dragão! Não faço aquela coisa com a língua, psssss”, respondeu o dragão irritado. “Super Cristã? O que raio é isso?”

“Cristã, Cristianismo, Cristo, filho de Deus! Não sabes quem é o filho de Deus?, perguntou Anfira, completamente ultrajado.

“Deus? Qual deles? Aqui há vários e não têm nomes ranhosos como Cristo”.

“Muitos Deuses? Que terra de hereges é esta?”, guinchou Anfira, tapando a boca com as mãos, completamente escandalizada, horrorizada, aterrada (yap, bela palavra).

“Errr, planeta Terra, Escandinávia, diz-te alguma coisa?”, perguntou o dragão, sentando-se na rocha e esticando as asas.

“Não”, choramingou Anfira.

“Vá, faz calma, eu vou levar-te até à aldeia mais próxima. O meu trabalho é salvar princesas, mesmo quando não o são.”

sexta-feira, 7 de março de 2008

Capítulo 9 [acho que é a parte IX, mas a Vanessa baralhou-me]

Ceridwen recompôs-se e desatou aos berros:
- O que é isto? O QUE É ISTO? O que é que estás aqui a fazer, Niel, e porque é que não disseste nada?
- Eu… eu… - Niel tinha algum medo de Ceridwen. – Eu sabia que não ias aprovar, nunca gostaste do Zaen. Por isso, fugimos.
- Ai, que miúda idiota!
- Realmente – comentou Filia. – Deve ser familiar da Anfira.
- Como é que…? – Ceridwen bloqueou quando viu Filia. Filia também pareceu engasgar-se. O resto dos presentes na sala de Vyrmack estava já como que congelado desde que as duas tinham aparecido, excepto Zaen e Anfira, que demoraram mais a notar o pormenor, já que tinham passado o tempo fixados um no outro. A semelhança entre as duas era incrível e não estamos a falar da personalidade. Pormenores cromáticos à parte (Filia vestia uma túnica branca sob uma armadura metálica brilhante e era loura, enquanto que Ceridwen envergava um vestido gótico negro e tinha também o seu longo cabelo pintado de preto), eram iguais.
Vyrmack entrou nesse momento, ainda extasiado de felicidade e deparou-se com aquela cena. Não entendendo o que se passava, afastou o cabelo dos olhos pela primeira vez em muitos anos. Antes de poder processar por completo a informação, disse “Ai…” e desmaiou.

Capítulo 9 qualquer coisa

Anfira, munida de uma caixa de Kleenex, mal conseguiu olhar para a cena, pois foi a correr para os pés de Zaen declarar o seu amor.
- Zaen, my love, afinal está alive!
- Yes, pois tou! Agora desampara-me a loja que estou com a minha amada.
Esta informação para Anfira foi como se o cristianismo deixasse de existir e todo o mundo se convertesse ao paganismo nórdico.
No instante exacto em que Anfira pensou nisto, apareceu, ao som da Marcha Imperial, Filia Santíssima. No mesmo instante, Ceridwen, caída de um wormhole, estilhaçava o jarrão preferido de Vyrmack que, felizmente, tinha saído para comprar tabaco no quiosque do bairro e contar à vizinhança que a sua 666ª neta ia casar.

Capítulo 9 (VII)

Madalena já não suportava a choraminguice de Anfira. Agora que tinha prometido não chorar mais pelo bem da Humanidade, Anfira lamentava-se a Madalena durante horas seguidas, enquanto se enterrava em lenços de papel ultra-absorventes para algumas lágrimas que não conseguia conter. Assim, num momento em que Matthieu, Anfira e Madalena estavam juntos, esta não aguentou mais:
- Temos de ir buscar o Zaen! – explodiu.
- Zaen… snif… – “comentou” Anfira.
- Sim, temos mesmo de ir buscá-lo; esta rapariga continua insuportável – concluiu Matthieu, que já não tinha um momento a sós com Madalena desde as cheias. – Vou falar com o Vyrmack.
Os três tinham fugido de casa de Vyrmack para se salvarem de uma morte bastante húmida e não o tinham voltado a ver desde então. Matthieu pegou nas duas raparigas e seguiram até à Casa da Porta Amarela (era o que dizia numa plaquinha de azulejo na parede exterior), Anfira quase arrastada pelos outros dois.
Tocaram à campainha (*música de Green Day*) e, segundos depois, apareceu-lhes Vyrmack.
- Ah, são vocês! Ainda bem que vieram! É ela! É ela! – exclamou Vyrmack ao vê-los.
- Ela? Ela, quem? – perguntou Madalena.
- A Niel! É a minha neta em seiscentésimo sexagésimo sexto grau! – Vyrmack parecia radiante, tão radiante que mal o reconheceram: estavam mais habituados ao seu ar de quem vai cortar os pulsos com uma batata frita a qualquer momento.
- A Niel está cá? – perguntou-lhe Matthieu, um pouco baralhado.
- Sim, sim! – respondeu Vyrmack, cada vez mais histérico. – E o Zaen também. Apareceram juntos! Vieram para cá para se casar! A minha menina vai casar! E é tão linda!
E continuou a disparar comentários alucinados, enquanto os outros tentavam pensar.
- C… c… cas… hã? – Matthieu estava estupefacto. Não conhecia toda a história do Reino dos Sete Pentagramas (Três dos Quais Invertidos), mas aquilo não lhe soava bem.
- Vão o quê?!
Anfira não aguentou mais e desatou a chorar. Mostrando ter bons reflexos, Madalena atirou-lhe imediatamente lenços de papel (dos tais ultra-absorventes), só para prevenir.
Ao fim de uns bons minutos a processar a informação, conseguiram finalmente mexer-se e entrar. A casa parecia ter recuperado miraculosamente da inundação, mas nenhum deles reparou nisso, porque lá dentro encontraram Niel e Zaen no sofá, a olharem um para o outro e a babar, com sorrisos altamente idiotas na cara.