quinta-feira, 25 de outubro de 2007

Capítulo 8 - Parte V

A rapariga parou, encolheu os joelhos e com o impulso necessário, atirou-se para a frente. Zaen estacou e olhou para a cena. Niel voava, bracejando e dando às pernas como se estivesse a nadar no ar. Ele pensou: “Epá, grande jogada! Assim apanha a galinha de certeza. E é gordinha, dava uns ricos hamburgers de aves.”

Parecia uma cena tirada de um filme sobre jogos de basket, em camera lenta. Lá ia Niel a voar, ou melhor, a nadar no fluido gasoso a que damos o nome de ar. A graciosidade inexistente com que se movia assustou os pobres morcegos que assistiam à deprimente cena de cabeça para baixo, com as patinhas agarradas às traves que cruzavam o tecto.

Lá ia Niel pelo ar. Estava a 1 metro da galinha… 50cm… 10cm… -2cm… -50cm… -1m… -2m…

Lá aterrou Niel 5 metros depois da galinha, que parou e inclinou o pescoço par ao lado como os cães fazem quando observam algo realmente estúpido. Esticou uma pata para o lado, rodou sobre si própria e começou a andar para trás, na direcção de Zaen. Niel ficou quieta no chão a dizer asneiras. Levantou-se murmurando muitos ais e uis e voltou-se.

- Apanha a bicha! – gritou ela para Zaen.

- O quê? O que é uma bicha? – perguntou ele, confuso.

Niel bateu com uma mão na testa, enquanto murmurava:

- Este gajo é tão estúpido que até parece ser meu pai!

A galinha parou em frente a Zaen e levantou a cabecinha. Zaen olhou para a galinha, a galinha olhou para Zaen.

- Olá, toino – disse a galinha.

Zaen mandou um grito e trepou pelo pilar mais próximo, agarrando-se a ele como quem se agarrava à vida. Quando Niel chegou ao pé dele, tocou-lhe num ombro. Ele abriu os olhos a medo. Tremia violentamente.

- A… a… a galinha falou! – guinchou ele.

- Mas tu vens de que mundo, pá? – perguntou-lhe Niel. Mas não esperou pela resposta dele, voltando a correr atrás da galinha. – Anda cá, pita, pita…

Sem comentários: