domingo, 28 de dezembro de 2008

Capítulo 12 - Para já sem título*

Zaen estava ainda um pouco tonto dos desmaios, mas esforçava-se por ir percebendo a realidade que o rodeava, ouvindo com atenção as explicações do Dr. Qualquercoisa Palmer e tentando filtrar os portantos que o baralhavam nas frases.
- Muito bem, acho que já entendi tudo. Preciso de falar com a família real! Pode ajudar-me? – perguntou Zaen?
- Deves estar, portanto, louco! Achas que é, portanto, qualquer um, portanto, que, portanto, consegue uma audiência no palácio? – o Dr. Qualquercoisa Palmer parecia incrédulo.
- De certeza que vão receber-me quando souberem que sou eu!
- Não é bem, portanto, assim. Portanto, no início, eles procuraram-te por, portanto, toda a parte e ofereceram mesmo, portanto, recompensas milionárias a quem tivesse, portanto, informações sobre ti. Mas claro que, portanto, tudo isso levou a muitas informações, portanto, falsas e, com o passar do, portanto, tempo, penso que acabaram por aceitar o teu, portanto, desaparecimento e já não recebem ninguém que afirme, portanto, saber, por tanto, de ti.
- Mas, se eu for ao palácio, vão reconhecer-me! A Anfira vai reconhecer-me!
- Não acredito, portanto, muito que, portanto, consigas entrar, mas podemos, portanto, tentar. Eu já trabalhei, portanto, com a Dra. Filia, talvez consiga contactar com ela para que, portanto, nos receba, portanto – sugeriu o Dr. Palmer.
- Pode fazer isso? Muito obrigado! – Zaen suspirou de alívio. Se encontrasse os seus amigos, talvez conseguisse arranjar uma forma de voltar à sua época ou, pelo menos, podia ver Anfira.


[* Depois de escrever o não-título do capítulo é que me apercebi que até é um bom título...]

quarta-feira, 19 de novembro de 2008

Capítulo 11 (VII)

Em menos de um segundo, Filia Santíssima irrompia pelo quarto para salvar a sua recém-descoberta irmã.
- Pelo ar evil, deves ser a Mialin – observou Filia.
- Ena, para loira, nem és muito burra – comentou Mialin, passando de seguida a ignorar Filia.
- Sim, é a nossa irmã, aparentemente ainda enlouquecida, Mialin – confirmou Ceridwen. – Só não sei como veio aqui parar. Eu não te tinha destruído ou coisa assim? Quando andaste a meter-te com o Vyrmack…
- “Nossa irmã”? O que é que eu tenho a ver com a medievalzeca? Pensava que a sentimental do grupo era a Niam, mas afinal tu é que pegas em qualquer terrestre que te aparece à frente e trazes para casa como se fosse da família…
Neste momento, Filia começou a berrar “Agarrem-me que eu vou-me a ela”, mas graças aos seus super-poderes, conseguiu segurar-se a si mesma.
- E, para responder à tua questão – continuou Mialin –, é óbvio que não me destruíste, dado que estou aqui para te impedir de me voltares a roubar o Vyrmack.
- Tu é que mo roubaste! OK, eu sei que, tecnicamente, não foi bem isso, mas, para efeitos de simplificação desta história tão complicada que não acredito que ainda haja alguém a entendê-la, vamos considerar que mo roubaste.
- Não, foste tu! – ripostou Mialin.
- Tu!
- Tu!
- Tu!
- Tu!
Com a barulheira, Matthieu e Madalena interromperam as suas “actividades” e foram ver o que se passava.
- Madalena, não achas que este emo faz mal à Ceridwen? Está pior que a Anfira…
- Sem dúvida… Quem é a outra gótica?
- Deve ser a irmã que ela supostamente destruiu porque tinha enlouquecido e queria dominar o mundo. Tens contigo a máquina fotográfica?
- Hum?
- Olha para a cara do Vyrmack: acabou de sair do coma e tem duas loucas a disputá-lo. Aquela expressão vai ficar bem num episódio dos Emo Rangers.
- Hahaha! Bela ideia! Adoro o teu humor distorcido, Matthieu.
- Eu também me adoro… Agora por isso, voltamos ao quarto?
- Errr… hum… pois… Como estará o Zaen?

Capitulo 11.5 - de regresso à casa de Vyrmac (a da musiquinha irritante de Green Day)

Ceridwen foi ao quarto do emo para ver se aquilo que tinha suspeitado era verdade ou não. Tinham-se passado alguns anos (e alguns aqui é eufemismo) desde que ela tinha visto o seu amado ser trespassado por uma espada e mal podia acreditar em quem estava ali deitado em coma com uma enorme franja na cara.
Sentou-se ao lado da cama e pegou na mão de Vyrmack. Era ela, ela reconhecia o seu cheiro (e que bem que ela se lembrava do cheiro dele debaixo daquele salgueiro ao pé do lago, do armário das vassouras, do carro do pai e da mãe e da irmã, da cozinha dos aposentos dele, do sótão, da biblioteca…). Ao pegar-lhe na mão, Vyrmack começou a mexer-se e a acordar do coma (o destino tem destas coisas… a tecnologia também…).
- Ceridwen! Minha amada!
- Oh, Vyrmack, meu amor.
E quando se estavam quase a beijar, abre-se um wormhole aos pés da cama e uma Mialin irritada sai de espada em punho.
- Seus pulhas! Eu já estava mesmo à espera disto!...
- Filia, socorro!!! – gritou Ceridwen.

Capítulo 11 (V)

- Eh lá, ó miúda, não és tão incompetente como pareces!
- Hum? O que é que eu fiz? – Anfira parecia confusa.
- Deste cabo dos Morcegos do Apocalipse! Estiveste muito bem!
- Eu? Não, não! Foi o poder de Deus! Eu estava a rezar e o Senhor ouviu-me! ALELUIA!
- Errr… Ai… Au! – Håvard batera com a pata na testa, o que dói um bocado quando se é um dragão… - É melhor deixar isto andar naturalmente. Parece que funciona melhor quando ela não pensa.

Capitulo 11. 4(?) - na continuação da demanda pela Primavera

No entanto, devido à escassez de petróleo, os Motosserristas do Apocalipse estavam em guerra aberta declarada pelo sindicato, logo não defendiam porra nenhuma nos próximos tempos. Assim, restavam os Morcegos do Apocalipse e os Forcados do Apocalipse para defender o castelo…
Håvard passou pelos morcegos e Anfira, vendo-os ali a começar a guinchar, começou a rezar uma panóplia de terços em diferença de fase, o que alterou os ultra-sons dos Morcegos e impediu a comunicação destes com os Forcados. Håvard ficou impressionado. Iam apanhar os Forcados de surpresa!

domingo, 16 de novembro de 2008

Capítulo 11...er....(sobre os Forcados do Apocalipse)

O que Håvard não sabia era que, para além das histórias terem fundamento, ou seja, de facto o castelo era guardado pelos Forcados do Apocalipse, como estes eram a elite do grupo de guardiões do castelo. A abrir as hostilidades estava a vigia dos Morcegos do Apocalipse, que enviavam o sinal aos Moto-serristas do Apocalipse para o início do combate contra o invasor. A seguir a estes sanguinários vinham então os Forcados do Apocalipse, para acabar com os que tivessem a audácia de tentar penetrar na inexpugnável defesa. Para limpar toda a porcaria restante das batalhas e para o serviços de catering havia a suíça do Pessoal do Apocalipse: Senhoras da Limpeza do Apocalipse (empresa Apocalimpa) e os Empregados de Mesa do Apocalipse (empresa Comalipse).

segunda-feira, 10 de novembro de 2008

Capítulo 11 (II)

Num outro tempo e num outro espaço, apesar de isto ser aproximadamente em tempo real, Anfira AINDA está a fazer perguntas a Håvard, cuja paciência se esgota rapidamente.
- Então a tia-avó do primo do Inverno era cunhada da bisneta da Primavera? Isso explica muita coisa… - “raciocinava” Anfira.
- CHEGA! CALA-TE! Não aguento mais, vou mandar-te de volta para a tua época. Se não fizermos nada, vocês no futuro é que são os prejudicados! Eu tentei. Deuses, juro que tentei, mas esta cristã – seja isso o que for – é mais a Super Chata! Prefiro morrer congelado que ouvir a voz dela durante mais 2 minutos!
- Calma, dragãozinho – Anfira tentou acalmá-lo. – Estava só a tentar entender a situação para poder resolvê-la…
- …
- Pronto, pronto, vamos lá a isso. Quantos são?
Anfira assumiu a sua pose de combate, ainda que não houvesse qualquer perigo por perto. Antes de entrar em desespero, Håvard pegou nela e levantou voo em direcção a uma fortaleza distante, que era apenas um ponto no horizonte. Enquanto voava, o dragão perguntava-se porque é que não tinha agarrado na miúda mais cedo, pensando que já podiam estar a meio caminho de libertar a Primavera. Por outro lado, no entanto, pedia aos deuses que os rumores de serem os Forcados do Apocalipse a guardar o castelo do Inverno não passassem de histórias disparatadas…

Capítulo 11 - Caos no blog - tudo ao molho e fé na Super Cristã....e na Filia Santíssima

- Oh! Sim… sim… SIM!

Madalena estava felicíssima. Desde que Anfira e Zaen tinham saído da dimensão deles, tudo estava mais calmo, tirando talvez o facto de Niel andar cabisbaixa e Vyrmack estar em coma.
Niel tinha tido uma looooooga conversa com Ceridwen, onde esta lhe explicou (sem entrar em detalhes) porque é que ela e o Zaen não podiam casar e, basicamente, era porque Zaen gostava mesmo era da Anfira.
- Mas nós íamos casar! Nós amamo-nos!
- Sure… E então porque é que foste ao laboratório da Rani gamar cenas – Ceridwen falava assim para que a tadinha da Niel entendesse – para fazer uma poção de amor? Não sabes mexer em mapas, mas feitiços já é contigo? Pooor favor…
Niel lá tinha concordado e resolveu ir para o seu planeta na sua dimensão tentar desvendar o mistério do nascimento dela.

Voltando à Madalena…
A razão da felicidade desta criatura devia-se ao facto de que, devido à calmaria e à ausência de Anfira, Matthieu dedicava-lhe todo o tempo livre, o que era óptimo por um lado, pois significava que Madalena andava muito mais satisfeita (em todos os sentidos), mas era péssimo por outro, porque o facto de Matthieu ser um vampiro significava que ele andava com uma energia quase inesgotável, logo – e pasmem-se – quem andava cansada e a fugir era Madalena e não ele. Desde desculpas clássicas como “Agora não, ‘mor, dói-me a cabeça” à não tão clássica “As minhas reservas de sangue estão em baixo”, qualquer desculpa servia para um bocado de sossego.
Matthieu sorria para si, pois finalmente acalmara a ninfomaniaquice de Madalena, coisa que ele não pensava ser possível neste universo.

terça-feira, 29 de julho de 2008

Capítulo 10.9

Enquanto olhava à sua volta, o Dr. Qualquercoisa Palmer surgiu no seu campo de visão.
- Ah! Portanto, já recuperaste, portanto, os sentidos. Sabes, nos meus tempos, portanto, livre, portanto, costumo ler, portanto, algumas revistas, portanto, cor-de-rosa, portanto e, portanto, já tinha visto qualquer coisa sobre a tua, portanto, família ter alguma, portanto, tendência para o, portanto, desmaio.
- Leste isso em revistas cor-de-rosa? – Zaen ficou com um ar incrédulo. – Espera lá… As revistas cor-de-rosa falam da minha família? – A sua incredulidade aumentava a cada minuto que passava. – Mas qual família? Eu não tenho família!
- Portanto, eu realmente estou, portanto, extasiado! – continuou o Dr. Qualquercoisa Palmer, praticamente ignorando as questões de Zaen. – Só queria, portanto, ir ao, portanto, passado dar uma, portanto, volta e, portanto, ver o ambiente e afinal trouxe, portanto, de volta um membro da, portanto, Família Real. Não admira que te tenham dado como desaparecido há anos…
- Família Real? – Zaen ia desmaiar a qualquer momento.
- Claro. Portanto, espera… Se calhar recuei, portanto, demasiado… Tu, portanto, ainda não, portanto, sabes?
- Pelos vistos, não…
- Portanto, não conheces ninguém nestes, portanto, outdoors?
- Sim, conheço a Anfira e a Niel e o Matthieu e a Madalena e a Filia e a Ceridwen… Mas não percebo o que se passa. Queres deixar-te de enigmas e portantos e explicar-me de uma vez?
- Portantos? Não percebi, portanto, essa…
Zaen soltou um suspiro.
- Se queres realmente que te, portanto, explique, tudo bem… TU pertences à Família Real.
- Mas isto não é uma república?
- Pois, portanto, foi. Mas isso era, portanto, no teu tempo. Em 2010 passou, portanto, a ducado, o que foi, portanto, uma experiência, portanto, deveras, portanto, muito desastrosa.
Desde a palavra 2010 que o queixo de Zaen estava completamente caído. O Dr. Palmer continuou:
- A nossa única, portanto, salvação foi a, portanto, união de poderes entre Anfira, portanto, tua mulher e a sua, portanto, némesis religiosa, portanto, Filia Santíssima. Seguiu-se então a constituição de um, portanto, reino, inserido no R7P3I, portanto, através da mediação da, portanto, grande Sábia Suprema, portanto, Ceridwen, que…
Zaen já chorava a rir.
- Disse alguma, portanto, piada?
- Por favor… A Anfira minha mulher? E aliada da pagã da Filia? Desculpa lá, mas só podes estar a gozar-me! – e, apesar de estar desesperado por estar num futuro tão louco quanto o seu interlocutor, Zaen não conseguiu parar de rir durante uns bons 5 minutos.
- Mas é, portanto, verdade! – repetia insistentemente o Dr. Qualquercoisa Palmer. – A Anfira é tua mulher e a Niel a vossa filha!
O facto era tão brutal que, por breves instantes o Dr. Palmer até perdeu o seu característico “portanto” no discurso.
- A Niel o quê? – Zaen caiu para trás.
- Outra vez desmaiado? Ai… Não vão, portanto, a um geneticista, que, portanto, não vale a pena…

Capítulo 10.8 - O paradeiro de Zaen

Zaen acordou com uma valente dor de cabeça. Sabia que tinha “saído” da casa de Vyrmack, não sabia da sua noiva Niel e já nem sabia porque tinha concordado com casar com ela. Ele sentia que aquilo era um bocado anti-natura, apesar de não entender porquê. A verdade é que ver Anfira naquele sofrimento todo e ouvi-la foi o suficiente para relembrar aquele sentimento estranho que tinha por ela. Parecia uma dor de estômago ao mesmo tempo que arritmia: supôs que fosse isso o tal amor de que todos falavam…

No entanto, isso não era o amor… o que estava realmente a acontecer é que ele, com tantas voltas no espaço-tempo, tinha ficado com uma doença estranha que causava aqueles dois sintomas: sofria da Doença de Minkowski-Menière-Riemann-Einstein. E como é que ele sabia disso? A verdade é que não sabia, mas o narrado é omnisciente e gosta muito de ver o Dr. Casa e tem a sabedoria inerente à personagem do Dr. Orchouse…

Zaen olhou em volta. Nada lhe pareceu muito estranho e até se sentia em casa… Aliás, ele estava em “casa”: tinha ido parar ao autocarro da banda dele, só que o que via pela janela não correspondia ao sítio onde a EMEL o tinha bloqueado…

Zaen tinha ido para o futuro e, realmente, o autocarro continuava bloqueado no mesmo sítio. Naquela dimensão do futuro, ele e os seus companheiros tinham passado de banda de culto a lendas do rock e o autocarro, último local onde os elementos da banda tinham estado todos juntos, era agora um monumento da cidade de Lisboa-de-Xira (fusão das cidades de Lisboa e Vila Franca de Xira no futuro), plantado numa rotunda de 10 faixas e ainda bloqueado pela EMEL…

Aquela cidade era muito estranha: metade era em cristal e vidro e aço e a outra era jardins e lagos e florestas. Aquilo lembrava-lhe os gostos de Anfira e Niel (que tinha achado estranho serem tão parecidos), mas resolveu não dizer nada, pois não sabia como era encarado o falar sozinho naquela sociedade tão… avançada.



Quando saiu do autocarro, viu num grande outdoor digital uma imagem de um gajo muito parecido com ele, com mais duas mulheres muito parecidas com Anfira e Niel, com o texto “Comemorações dos 500 anos da Família Real – Hoje às 21.30 na RTR7P3I”. Noutro outdoor ao lado lia-se, desta vez com fotos de duas pessoas muito brancas e muito parecidas com Madalena e Matthieu: “Escola Superior de Ciência: novos cursos de Sexologia (Nível I, II, III e Avançado) e continuação da leccionação dos cursos de Física Geral, Avançada, Ultra-Avançada e Bué-de-Difícil.”

Zaen estava parvo, mas ainda mais aparvalhado ficou quando olhou para o chão e viu um equivalente do jornal Metro, o Meglev, que dizia “Ceridwen e Filia Santíssima na vanguarda da tecnologia: mais 2 prémios Nobel atribuídos a estas duas investigadoras” e “Vyrmack constrói a derradeira árvore genealógica da população humana”.

segunda-feira, 28 de abril de 2008

O Reino já tem uma Primavera (se a Anfira a conseguir salvar…)

Apesar de escrevermos há mais tempo, fizemos há dias um ano sob a forma de blog. Nada de retrospectivas lamechas, quero apenas deixar alguns agradecimentos a quem nos apoiou e/ou inspirou desde o início ou desde o meio ou mesmo desde os ¾. Assim sendo, obrigada:
- à Ana, à Vanessa e ao David por terem escrito livros com os quais me fartei de gozar, pela ideia de escrever esta versão e pela colaboração;
- ao Vítor e à Carina pela mítica história do sacrifício de hamburgers e pelo Caderno Satânico (um dia ponho cá uma foto) onde escrevemos todos os rascunhos;
- aos professores e restantes personagens da FCUL, pá, que, portanto pá, inspiraram várias, portanto, personagens e situações, pá…
- aos físicos de todos os tempos (e ao grande matemático Augustin Cauchy :P);
- ao JC, à Freyja e às religiões e mitologias em geral;
- aos góticos, emos e posers em geral e ao power metal finlandês;
- ao Wagner e ao metal viking;
- à Swarovski, à Fender e à Maria;
- ao Dr. House;
- às notícias da TVI, Correio da Manhã, 24 Horas e O Crime;
- à Grécia, à Suécia, ao Chipre e à Rússia e também à língua francesa;
- a todos os que nos leram, lêem e lerão.

Pronto, agora limpem as lágrimas e assoem-se. The show must go on…

sábado, 12 de abril de 2008

Capítulo 10.7

Num outro espaço e num outro tempo, Anfira tentava entender a sua situação. Mesmo com o cerebrozinho que tinha, já tinha reparado que não fazia muito mais na vida para além de tentar entender a sua situação.
Aparentemente, estava na Escandinávia e, pelo que tinha concluído (portanto, não é informação de confiança), estava na época dos vikings e era Inverno.
Segundo Håvard, o dragão, era Inverno há vários anos. Alguém que ele dizia ser o Inverno em pessoa tinha raptado a Primavera (também personificada), deixando o mundo coberto de gelo.
Dado o longo Inverno, a fome começava a espalhar-se por todo o lado e Håvard tinha sido enviado da sua aldeia para tentar libertar a Primavera. Anfira pensou que ele devia ser do Porto, mas Håvard esclareceu que não vinha duma aldeia de dragões, mas sim de humanos e que tinha sido o Inverno a transformá-lo. Ele transformava em animais todos os que, como ele, tentavam confrontá-lo, para que perdessem a sua humanidade, tornando-se inofensivos.
Anfira interrompeu a explicação:
- Mas um dragão não é propriamente o animal mais inofensivo que há… Aliás, nem sabia que os dragões eram reais – se calhar extinguiram-se e só restaram as histórias. Ou então fui eu que não apanhei bem essa parte das aulas… Não, não pode ser; eu prestava sempre tanta atenção, não ia perder uma coisa dessas… ou ia?
- Aham… Terra chama Anfira… Estás a divagar!
- Hum? Hã? Ah! Desculpa, distraí-me.
- Sim, estou a ver que a concentração não é o teu forte. É provável que tenhas perdido essa parte das aulas por estares a pensar noutra coisa qualquer.
- Onde íamos mesmo?
- Estava a contar-te a minha história…
- Ah, sim, isso. Continua, por favor. Desculpa a minha distracção.
- Tudo bem, desta vez passa. Da próxima, espirro para cima de ti – ameaçou o dragão.
- Mas… qual é o objectivo de me pegares a gripe?
- Gripe? Eu estava a falar de tostar-te.
- Hum? – Anfira estava lenta. É do frio…
- Também não apanhaste a parte das aulas em que diziam que cuspimos fogo, pois não? - Håvard começava a perder a paciência e, se soubesse do que se passava na Terra, Anfira estaria a pensar que, com aquele feitio, aquele devia ser mais um familiar de Ceridwen e Filia. Håvard começava agora a duvidar se a völva não se teria enganado.
- Errr… fogo? Sim, tenho ideia disso. Acho…
Håvard suspirou. Claramente, não tinha sido boa ideia ir buscar a Super Cristã. Ele tinha desconfiado desde que ouvira o nome. O que raios era uma cristã? E porquê super? A única coisa que a rapariga à sua frente parecia ter em grande quantidade era bloqueios cerebrais.
- Bom, adiante!
- Espera, tenho umas dúvidas! – cortou Anfira.
- Diz lá então.
Era bom que o regresso da Primavera valesse bem o que estava a sofrer, senão a völva que o tinha aconselhado a chamar a Super Cristã ia ter problemas…

Capítulo 10.6

- Pois. – E Filia esboçou um sorriso. Começava a gostar da sua recém-descoberta irmã gémea, ainda que não percebesse bem como era possível o seu parentesco. Mas ela parecia-lhe ser a pessoa mais inteligente que ali andava.
E continuaram a conversar durante o resto do dia, enquanto Vyrmack e Niel não acordavam e Matthieu e Madalena faziam não se sabe bem o quê.

Capítulo 10.5

- Não pode!
- Infelizmente pode. A croma da minha filha teve de casar com um gajo escolhido sabe-se lá como e o gajo era só look, cérebro zero. Tanta inteligência desperdiçada… – suspirou.
- Mas houve alturas piores…
- Sim, quando a croma da Aine (a mãe da Niel) se juntou com o cromo do Zos (guarda pessoal dela, logo burreco) e saiu a Niel. Ora a mãe já era um caso trágico… A única que se safou mais ou menos foi a Rani, a irmã da Aine, que era super inteligente e me substituiu no cargo de Sábia Suprema. Agora eu continuo a sê-lo, mas é só porque sou mais esperta que aquela gente toda junta.
- Sim, faz sentido.
- Claro que faz! Fui eu que o disse.

terça-feira, 8 de abril de 2008

Capítulo 10.4

- Antes de mais nada… com licença…
E Ceridwen arrancou um dos cabelos louros de Filia, tirando depois um dos seus.
- Para que foi isso?
- Tenho um analisador portátil de ADN. Esta semelhança entre nós tem de vir de algum lado. Mas, se calhar, não sabes do que estou a falar, este planeta é um bocado atrasado…
- Sim, sei. Lá porque vens dum mundo futurista, não é preciso ofenderes… E concordo contigo, tem de haver alguma relação entre nós.
Ceridwen analisou rapidamente o ADN dos cabelos e desceu mais um nível na escala dos brancos na sua cara. Disse o mais alto que conseguiu (e mesmo assim Filia quase teve de se encostar a ela para ouvir):
- Somos… g… gémeas – Ceridwen caminhava para o terceiro bloqueio mental do dia.
- Cala-te! Que disparate! – Filia não queria acreditar, e com razão.
- Não, é mesmo verdade – insistiu Ceridwen. – Mas faz sentido, somos realmente iguais.
- Bom, sim…
Olharam-se durante breves segundos, durante os quais esteve iminente uma explosão de lágrimas e abraços, que, felizmente para os níveis de lamechice desta história, não chegou a acontecer.
- Diz-me uma coisa… – continuou Filia, um pouco a medo. – A Niel é da tua família? É tão parvinha, não me ia agradar muito ser familiar dela.
- Infelizmente, sim. A família degenerou um bocado ao longo do tempo – confirmou Ceridwen.

segunda-feira, 7 de abril de 2008

Capítulo 10.3

- Essa parte já eu tinha entendido. Posso ser doutra dimensão, mas sei razoavelmente o que se passa nesta, pelo menos em traços gerais: Super Cristã, arqui-inimiga, cheias, etc… Agora o que me preocupa não é bem isso, como é óbvio – e não resistiu a murmurar “Croma!” para si própria.
Filia até achou a explicação mais ou menos… explicada. Tendo em conta que ela era de uma dimensão diferente, até fazia sentido. Ela também sabia, em traços gerais, o que se passava na dimensão de Ceridwen: rainha morta, rei morto, revolução das equipas de limpeza, etc…
Afinal de contas, o pessoal importante de cada dimensão tinha acesso à famosíssima (entre eles…) RIP – Rádio Interdimensional Pirata (para não pagar a frequência, já que eram N frequências para as N dimensões… façam as contas) e sabiam assim o que se passava (em traços gerais, porque eram N dimensões e tal…) pelo espaço todo.

Capítulo 10.2

Madalena e Matthieu reentravam na sala nesse momento. Viram Niel cair para o lado, pensaram “Olha outra…” e resolveram tirá-la dali e não voltar tão cedo porque já lhes começava a doer as costas de transportar pessoal. Arrastaram Niel pela escada acima, mas, como iam distraídos, fizeram com que a sua cabeça batesse em todos os degraus. Houve uma vozinha dentro de Ceridwen que murmurou “déjà vu”, mas ficou abafada na confusão que lhe ia no cérebro.
Filia e Ceridwen ficaram então a olhar-se durante um bocado, quase à espera que algum ser de outra dimensão aparecesse para lhes explicar a situação (já tinham acontecido coisas mais estranhas…).
Finalmente, desbloquearam. Ceridwen foi a primeira a falar, ainda num tom bastante soft:
- Ok. O que se passa aqui? Quem és, de onde vens, para onde vais, o que fazes aqui, etc…?
Filia, que já tinha regressado à sua postura altiva, respondeu-lhe:
- Duh… O que achas? Loura, ar escandinavo, roupa antiquada, bocados de armadura… Diz-te alguma coisa?

Capitulo 10.1 - Regressando a casa de Vyrmac

Regressando à Casa da Porta Amarela…
Ceridwen olhava aparvalhada para o corpo do emo estendido no chão. Tendo em conta que estamos a referir que Ceridwen, a Sábia-Suprema do planeta de Ankaa do R7P3I, estar aparvalhada era uma coisa de uma raridade extrema. Aliás, arrisco afirmar que seria a primeira vez, no máximo a segunda, que tal lhe tinha acontecido.
- Mas ele… ele…
Filia interrompeu o “raciocínio” (Ceridwen tinha o cérebro bloqueado. Python… é raro, mas acontece) e disse logo:
- Levem o estronço daqui, antes que ele se aperceba que vai haver sangue derramado… Sabem que ele é picuinhas com as limpezas e não gostou nada quando a Anfira lhe inundou a casa…
Matthieu pegou em Vyrmack e levou-o para o quarto, obedecendo a Filia, porque ele era observador da Super Cristã, mas sempre tinha tido um fraquinho pelo paganismo.
Madalena acompanhou Matthieu. Nunca se sabe se quando Vyrmack acordasse eles não poderiam fazer alguma coisa em conjunto… (Madalena nunca perdia uma potencial oportunidade de praticar o seu desporto favorito com Matthieu):
Estavam agora na sala Ceridwen, Filia e Niel. Niel abriu as hostilidades:
- Oh tu aí de branco… Porque é que de repente descoloraste o cabelo? Foi do susto que perdeu a cor?
Entretanto, olhou para o lado oposto e viu Ceridwen de novo com o seu ar bloqueado, desta vez olhando para Filia. Olhou para uma, para a outra, para uma, para a outra… uma… outra… e ficou tão baralhada que puff, desmaiou também.

segunda-feira, 10 de março de 2008

Capítulo 10 [entra música de star wars] - O ataque da caneta amarela

Há uma altura na vida para tudo, até para carregar no botão reset. Há dias que o o Dr. Qualquercoisa Palmer estava na mesma posição, dedo esticado na direcção do botão vermelho (os botões de reset são quase sempre vermelhos, se não forem pitem ou devolvam o aparelho, pois tem defeito. Os que explodem coisas, abortar operações ou ejectar também são. No caso de ter estes vários botões num mesmo aparelho tenha cuidado para não se enganar.). Tomou coragem e carregou. O pequeno aparelho, uma caneta amarela, piou como um relógio do chinês que levou uma pancada e voltou a ligar-se. O Dr. Qualquercoisa Palmer sorriu. O seu abridor de wormholes portáteis estava a funcionar. Finalmente iria conhecer outro universo, outros mundos.

Rapidamente pegou numa folha de papel, que já ninguém usava, numa caneta, cuja única utilidade era escrever naquela coisa arcaica chamada folha de papel, e escreveu uma anotação para a fêmea com quem havia celebrado um contrato de troca de fluidos: “Portanto, vou a outro universo comprar tralha e já volto”.

Colocou-se em posição de partida e carregou no botão azul. A caneta começou a vibrar feita maluca e um buraco no tecido do espaço-tempo apareceu mesmo à sua frente.

“Portanto deve ser isto”.

Enfiou a cabeça no buraco, depois o corpo e por fim desapareceu. O buraco fechou-se.

Anfira olhava para Zaen, Zaen olhava para Anfira, os outros olhavam todos uns para os outros. Subitamente Anfira e Zaen desapareceram sem deixarem rasto.

“Onde é que foram?”, perguntou Matthieu.

“Who cares?”, respondeu Madalena, encolhendo os ombros.

Zaen olhava, olhava.

“Pêra lá, tu não és a Anfira. A Anfira não é cinzenta nem tem antenas”, disse Zaen.

“Não são antenas! Portanto, são receptores de sinais electromagnéticos, portanto.”

“Ah… E quem és tu, pá?”, perguntou Zaen.

“Sou o Dr. Qualquercoisa Palmer, perito em canetas amarelas manhosas, portanto. E, portanto, quem és tu?”

Anfira olhava para os grandes olhos verdes e os grandes olhos verdes olhavam para ela. Um bafo quente atingiu-lhe a cara e ela pestanejou.

“Foste à praia, Zaen? Estás um bocado preto. Tens de cuidar dessa pele”.

Anfira afastou-se o suficiente para ver bem quem estava à sua frente.

“Mas tu não és o Zaen”. Ela olhou de alto a baixo. “O Zaen não tem cauda.”

“Mas quem és tu?”, perguntou o que estava à frente dela, com uma voz rouca e grave que fez tremer o chão.

“Eu sou a Anfira, a Super Cristã, ó bicho… hum… estranho. És um lagarto?”

“Dragão, dragão! Não faço aquela coisa com a língua, psssss”, respondeu o dragão irritado. “Super Cristã? O que raio é isso?”

“Cristã, Cristianismo, Cristo, filho de Deus! Não sabes quem é o filho de Deus?, perguntou Anfira, completamente ultrajado.

“Deus? Qual deles? Aqui há vários e não têm nomes ranhosos como Cristo”.

“Muitos Deuses? Que terra de hereges é esta?”, guinchou Anfira, tapando a boca com as mãos, completamente escandalizada, horrorizada, aterrada (yap, bela palavra).

“Errr, planeta Terra, Escandinávia, diz-te alguma coisa?”, perguntou o dragão, sentando-se na rocha e esticando as asas.

“Não”, choramingou Anfira.

“Vá, faz calma, eu vou levar-te até à aldeia mais próxima. O meu trabalho é salvar princesas, mesmo quando não o são.”

sexta-feira, 7 de março de 2008

Capítulo 9 [acho que é a parte IX, mas a Vanessa baralhou-me]

Ceridwen recompôs-se e desatou aos berros:
- O que é isto? O QUE É ISTO? O que é que estás aqui a fazer, Niel, e porque é que não disseste nada?
- Eu… eu… - Niel tinha algum medo de Ceridwen. – Eu sabia que não ias aprovar, nunca gostaste do Zaen. Por isso, fugimos.
- Ai, que miúda idiota!
- Realmente – comentou Filia. – Deve ser familiar da Anfira.
- Como é que…? – Ceridwen bloqueou quando viu Filia. Filia também pareceu engasgar-se. O resto dos presentes na sala de Vyrmack estava já como que congelado desde que as duas tinham aparecido, excepto Zaen e Anfira, que demoraram mais a notar o pormenor, já que tinham passado o tempo fixados um no outro. A semelhança entre as duas era incrível e não estamos a falar da personalidade. Pormenores cromáticos à parte (Filia vestia uma túnica branca sob uma armadura metálica brilhante e era loura, enquanto que Ceridwen envergava um vestido gótico negro e tinha também o seu longo cabelo pintado de preto), eram iguais.
Vyrmack entrou nesse momento, ainda extasiado de felicidade e deparou-se com aquela cena. Não entendendo o que se passava, afastou o cabelo dos olhos pela primeira vez em muitos anos. Antes de poder processar por completo a informação, disse “Ai…” e desmaiou.

Capítulo 9 qualquer coisa

Anfira, munida de uma caixa de Kleenex, mal conseguiu olhar para a cena, pois foi a correr para os pés de Zaen declarar o seu amor.
- Zaen, my love, afinal está alive!
- Yes, pois tou! Agora desampara-me a loja que estou com a minha amada.
Esta informação para Anfira foi como se o cristianismo deixasse de existir e todo o mundo se convertesse ao paganismo nórdico.
No instante exacto em que Anfira pensou nisto, apareceu, ao som da Marcha Imperial, Filia Santíssima. No mesmo instante, Ceridwen, caída de um wormhole, estilhaçava o jarrão preferido de Vyrmack que, felizmente, tinha saído para comprar tabaco no quiosque do bairro e contar à vizinhança que a sua 666ª neta ia casar.

Capítulo 9 (VII)

Madalena já não suportava a choraminguice de Anfira. Agora que tinha prometido não chorar mais pelo bem da Humanidade, Anfira lamentava-se a Madalena durante horas seguidas, enquanto se enterrava em lenços de papel ultra-absorventes para algumas lágrimas que não conseguia conter. Assim, num momento em que Matthieu, Anfira e Madalena estavam juntos, esta não aguentou mais:
- Temos de ir buscar o Zaen! – explodiu.
- Zaen… snif… – “comentou” Anfira.
- Sim, temos mesmo de ir buscá-lo; esta rapariga continua insuportável – concluiu Matthieu, que já não tinha um momento a sós com Madalena desde as cheias. – Vou falar com o Vyrmack.
Os três tinham fugido de casa de Vyrmack para se salvarem de uma morte bastante húmida e não o tinham voltado a ver desde então. Matthieu pegou nas duas raparigas e seguiram até à Casa da Porta Amarela (era o que dizia numa plaquinha de azulejo na parede exterior), Anfira quase arrastada pelos outros dois.
Tocaram à campainha (*música de Green Day*) e, segundos depois, apareceu-lhes Vyrmack.
- Ah, são vocês! Ainda bem que vieram! É ela! É ela! – exclamou Vyrmack ao vê-los.
- Ela? Ela, quem? – perguntou Madalena.
- A Niel! É a minha neta em seiscentésimo sexagésimo sexto grau! – Vyrmack parecia radiante, tão radiante que mal o reconheceram: estavam mais habituados ao seu ar de quem vai cortar os pulsos com uma batata frita a qualquer momento.
- A Niel está cá? – perguntou-lhe Matthieu, um pouco baralhado.
- Sim, sim! – respondeu Vyrmack, cada vez mais histérico. – E o Zaen também. Apareceram juntos! Vieram para cá para se casar! A minha menina vai casar! E é tão linda!
E continuou a disparar comentários alucinados, enquanto os outros tentavam pensar.
- C… c… cas… hã? – Matthieu estava estupefacto. Não conhecia toda a história do Reino dos Sete Pentagramas (Três dos Quais Invertidos), mas aquilo não lhe soava bem.
- Vão o quê?!
Anfira não aguentou mais e desatou a chorar. Mostrando ter bons reflexos, Madalena atirou-lhe imediatamente lenços de papel (dos tais ultra-absorventes), só para prevenir.
Ao fim de uns bons minutos a processar a informação, conseguiram finalmente mexer-se e entrar. A casa parecia ter recuperado miraculosamente da inundação, mas nenhum deles reparou nisso, porque lá dentro encontraram Niel e Zaen no sofá, a olharem um para o outro e a babar, com sorrisos altamente idiotas na cara.

quinta-feira, 28 de fevereiro de 2008

Capítulo 9 (VI)

- Deuses! Esta gente é terrível! Bem, se estes jornais já chegaram a isto, vou ver o que posso fazer.
E desapareceu numa nuvem de fumo.
Após conferenciar com os deuses (ou pelo menos foi isso que ela afirmou que tinha feito), Filia conseguiu o “milagre” que Anfira tinha pedido, deixando-a então dividida entre as saudades de Zaen e o alívio por não ter sido transformada em vampira por Matthieu. Já ele, estava dividido entre o orgulho pela eficiência da sua observanda [que palavra horrível…] e a desilusão de ter perdido uma boa refeição.

Capítulo 9.5

- Err… Filia… Não tens visto as notícias nem os cabeçalhos dos jornais, pois não?
- Por acaso não, mas porquê?
E mostrou-lhe o cabeçalho do DN, onde se lia: Deus castiga os lisboetas. Convertam-se e tenham a absolvição.

Capítulo 9 (IV)

- Mas o que é isto? Um altar? Ando eu a combater os cristãos para isto… Enfim, diz lá o que se passa.
- Há uma rapariga que se auto-intitula Super Cristã e que inundou a cidade e arredores com o seu choro. Ou pelo menos é isso que ela diz. Agora parece que precisa da minha ajuda para eliminar da memória das pessoas esse “incidente”, como disse o tipo muito branco que vinha com ela. Como não tinha mais nada para fazer, resolvi pedir a tua ajuda.
- Ah, a Anfira. Mas já noutro dia me pediste isso para a mãe da amiga dela, que estava completamente traumatizada. Como sabes, não faço isso sem razão; a senhora é que, no meio da sua loucura, estava a considerar entrar para um convento e a última coisa que este mundo precisa é de mais uma freira. Mas agora não vejo motivos, isto até desacredita a religiãozinha deles.

Capítulo 9.3

É sabido que o Dr. Orchouse conseguiu fazer com que a mãe de Madalena se esquecesse daquele triste incidente que aconteceu logo no início da nossa história. Afinal, ele era tão bom, tão bom, tão bom, que até conseguia contornar as leis da termodinâmica e anular o tal efeito da entropia manhoso que congelou tudo. Mas agora era um bocado mais complicado…
O Dr. Orchouse era devoto de Filia Santíssima (nunca saberemos porquê…). Tinha mesmo um altar em adoração dela situado na morgue do hospital, onde foi pedir inspiração. Para invocar Filia pôr a tocar o CD da Cavalgada das Valquírias e, ao ouvir este magnífico som, Filia apareceu-lhe, envolta numa nuvem de fumo e com um tapete de lava nos pés. Sacou da sua espada viking e apontou-lha ao pescoço.

Capítulo 9 (II)

Com o ralhete de Matthieu, a vontade de chorar de Anfira ainda aumentou mais, mas, com medo de ser mordida e se tornar numa criatura do demónio, fez um esforço sobre-humana (que para ela era nem era nada de especial) e engoliu as lágrimas. Tinha de resolver a questão, portanto passou imediatamente à acção, fazendo o que melhor sabia fazer: rezar. Rezou e rezou e, fosse porque alguma entidade divina a ouviu e atendeu ao seu pedido ou porque o sistema de esgotos foi reparado e o Sol brilhava horas e horas seguidas (era Verão), a verdade é que a água se foi ao fim de 3 dias. A parte de fazer com que a população se esquecesse do sucedido é que parecia mais difícil de concretizar, pelo que Anfira decidiu consultar a única pessoa que ela achava que podia perceber do assunto – o Dr. Orchouse.

Capítulo 9 – Χαος Γενετο (Nasceu o caos)

Já a seguir o Telejornal com José Rodrigues dos Santos.

-Boa noite. As cheias em Portugal já estão a causar o caos. Neste momento os aeroportos da Portela, Ota e Alcochete já se encontram encerrados e não permitem o tráfego aéreo de entrar e sair do nosso país. As auto-estradas A1 e A8 estão cortadas e, o facto mais curioso, o nível de precipitação ronda o zero e o Sol brilha no céu. Apesar de a água não subir há já 3 horas, a Protecção Civil continua à procura de rupturas de diques, esgotos ou captações de água que possam ter levado a esta tragédia.


- Estás a ver? Estás a ver o que fizeste? Mas afinal és a Super Cristã ou a Super Choramingas? És uma vergonha, Anfira. Eu, como teu observador, exijo que consertes tudo e que faças com que o pessoal não se lembre disto, senão estás feita e mordo-te – disse Matthieu, passadíssimo com a atitude ultra-temperamental de Anfira.
Desde que Zaen desaparecera que Anfira chorava sem para, já lá iam 32 horas.
Tinha provocado o caos absoluto na zona de Lisboa e arredores e tinha deixado a casa de Vyrmack completamente alagada.
Matthieu, após ter posto Madalena em segurança (tendo tido sexo louco, pois Madalena ficava excitada com tudo, até mesmo só com o soalho ou assim), tinha regressado para ver como estava Anfira e deu com o caos instalado. Uma Super Cristã temperamental não deve ser deixada sozinha a curar o seu desgosto…