terça-feira, 29 de julho de 2008

Capítulo 10.8 - O paradeiro de Zaen

Zaen acordou com uma valente dor de cabeça. Sabia que tinha “saído” da casa de Vyrmack, não sabia da sua noiva Niel e já nem sabia porque tinha concordado com casar com ela. Ele sentia que aquilo era um bocado anti-natura, apesar de não entender porquê. A verdade é que ver Anfira naquele sofrimento todo e ouvi-la foi o suficiente para relembrar aquele sentimento estranho que tinha por ela. Parecia uma dor de estômago ao mesmo tempo que arritmia: supôs que fosse isso o tal amor de que todos falavam…

No entanto, isso não era o amor… o que estava realmente a acontecer é que ele, com tantas voltas no espaço-tempo, tinha ficado com uma doença estranha que causava aqueles dois sintomas: sofria da Doença de Minkowski-Menière-Riemann-Einstein. E como é que ele sabia disso? A verdade é que não sabia, mas o narrado é omnisciente e gosta muito de ver o Dr. Casa e tem a sabedoria inerente à personagem do Dr. Orchouse…

Zaen olhou em volta. Nada lhe pareceu muito estranho e até se sentia em casa… Aliás, ele estava em “casa”: tinha ido parar ao autocarro da banda dele, só que o que via pela janela não correspondia ao sítio onde a EMEL o tinha bloqueado…

Zaen tinha ido para o futuro e, realmente, o autocarro continuava bloqueado no mesmo sítio. Naquela dimensão do futuro, ele e os seus companheiros tinham passado de banda de culto a lendas do rock e o autocarro, último local onde os elementos da banda tinham estado todos juntos, era agora um monumento da cidade de Lisboa-de-Xira (fusão das cidades de Lisboa e Vila Franca de Xira no futuro), plantado numa rotunda de 10 faixas e ainda bloqueado pela EMEL…

Aquela cidade era muito estranha: metade era em cristal e vidro e aço e a outra era jardins e lagos e florestas. Aquilo lembrava-lhe os gostos de Anfira e Niel (que tinha achado estranho serem tão parecidos), mas resolveu não dizer nada, pois não sabia como era encarado o falar sozinho naquela sociedade tão… avançada.



Quando saiu do autocarro, viu num grande outdoor digital uma imagem de um gajo muito parecido com ele, com mais duas mulheres muito parecidas com Anfira e Niel, com o texto “Comemorações dos 500 anos da Família Real – Hoje às 21.30 na RTR7P3I”. Noutro outdoor ao lado lia-se, desta vez com fotos de duas pessoas muito brancas e muito parecidas com Madalena e Matthieu: “Escola Superior de Ciência: novos cursos de Sexologia (Nível I, II, III e Avançado) e continuação da leccionação dos cursos de Física Geral, Avançada, Ultra-Avançada e Bué-de-Difícil.”

Zaen estava parvo, mas ainda mais aparvalhado ficou quando olhou para o chão e viu um equivalente do jornal Metro, o Meglev, que dizia “Ceridwen e Filia Santíssima na vanguarda da tecnologia: mais 2 prémios Nobel atribuídos a estas duas investigadoras” e “Vyrmack constrói a derradeira árvore genealógica da população humana”.

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